quarta-feira, 23 de abril de 2008

Voto em Lula: classe social, ideologia ou identificação com o candidato?

No sub-campo “comportamento eleitoral” da ciência política existe uma centena de artigos acadêmicos dedicados a analisar o voto em Lula: se mais ou menos ligado à identificação ideológica (de esquerda), se mais associado à identificação partidária (com o petismo), se relacionado ao sucesso desta ou daquela política econômica...

Mudança importante verifica-se entre a eleição de 2002 e a de 2006. No primeiro pleito, a variável identidade ideológica (de esquerda) foi mais significativa para explicar o voto em Lula; em 2006, diferentemente, o estrato social foi uma variável mais decisiva sobre a decisão de votar ou não em Lula, fazendo com que a dimensão ideológica perdesse peso na escolha do presidente.



Mas, afirmam as autoras do estudo: "
Não obstante essas diferenças, nos dois momentos, o voto em Lula em específico é mais fortemente explicado pela simpatia e identidade com o candidato."

Por enquanto, o "x" da questão continua a ser "efeito Lula" sobre o eleitorado brasilero...


Do artigo “Classe, ideologia e política...” de Denilde Oliveira Holzhacker e Elizabeth Balbachevsky.
Opin. Publica , Campinas, v. 13, n. 2, 2007 .

A revista Opinião Pública, em seu último número (v. 13, n. 2), apresenta uma série de análises sobre as eleições de 2002 e 2006, que vão desde impacto da corrupção, partidarização do voto, eleitorado evangélico etc.

Post-Scriptum:

Não há o menor cabimento tomar em estes dados e estas conclusões para afirmar que políticas sociais (“assistencialistas”, como quer a revista Veja) amealham votos, porque o artigo não se refere ao impacto das políticas (quaisquer que sejam) sobre o voto. Há outros artigos dedicados a medir este tipo de hipótese.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

A Importância das Coalizões

O candidato da aliança denominada "Povo da Liberdade", o empresário Silvio Berlusconi, sobe ao poder na Itália pela terceira vez como primeiro-ministro (1994-1995; 2001-2006). Com 47% dos votos, a lista partidária (partido Força Itália, Aliança Nacional, Liga do Norte e outros de porte reduzido), conseguiu 340 cadeiras na Câmara Baixa e 171 cadeiras no Senado. São 630 deputados e 315 senadores, no total.

Berlusconi assume o mais importante país da península apenina em tempos difíceis: recessão a vista (crescimento esimado em 0,3%) e equilíbrio fiscal cambaleante. Para conseguir implementar seu plano de governo, calcado, segundo informa, no corte de gastos públicos e aumentos dos investimentos estatais, deverá contar com uma coalizão nada homogênea. E como sabemos, em se tratando de parlamentarismo, uma vez perdida a maioria no legislativo, está perdida a governabilidade e com ela também a cabeça do chanceler.

O partido Aliança Nacional, principal apoiador de Berlusconi, irá, segundo informações do site UOL Últimas Notíciais, se fundir ao partido do atual chanceler, o Força Itália, criando definitivamente o PDL - Povo da Liberdade. Se essa fusão se verificar, prevista para o segundo semestre, pode trazer certa força e certa estabilidade para a coalizão eleita.

Porém, o calcanhar de aquiles da coalização é o partido autônomo, xenófobo, como o definiu a Folha de São Paulo, Liga Norte que conseguiu expressivos 8% dos votos nacionais. No Senado, 25 cadeiras e na Câmara, 60 cadeiras. São fortes números considerando que a oposição (Partido Democrata - PD - e Itália dos Valores - IDV) tem 239 cadeiras na Câmara e 130 no Senado. Apesar do parlatório do chanceler, é sabida a importância que a Liga ocupa na arena eleitoral e ocupará no locus decisório. Sem a Liga, o gabinete e o primeiro ministro sucumbem, necessariamente.

Embora o Brasil adote o presidencialismo, aqui também o governo fica de mãos atadas sem a aliança com certos partidos, na malfadada esperança de conseguir a maioria. Por conta do almejado apoio, barganha cargos ministeriais, emendas orçamentárias, cargos de segundo escalão, direções em empresas públicas, enfim. Aqui o Partido do Movimento Democrático Brasileiro é o principal apoiador do governo. A duras penas, é claro (no início de 2007, 12,12% das 33 pastas ministeriais eram do PMDB, que perdia apenas para o PT).

Com um porém. No Brasil vivemos diante de um Executivo com superpoderes que é quem dá as cartas na aprovação de projetos de lei, reformas e MP's. Portanto, apesar da extrema importância da coalizão forjada sob "auspícios ocultos" de cargos e nomeações, quem dá as cartas no processo decisório é o Executivo (agenda, concertos com os líderes partidários). A vantagem perante a Itália é que perdida a aliança, forma-se uma nova, reconstituindo o gabinete, com base nos partidos que compõem a nova lista.

Nítido é que a composição de uma nova base não é tão fácil e, por vezes, nem sempre é possível. Nesses casos, os políticos recorrem a métodos não tão republicanos...

Cuidado com os seus arquivos

O provedor iG defenestrou de seu domínio o Conversa Afiada, blog do jornalista Paulo Henrique Amorim. Em se tratando de terras tupiniquins, não surpreende. Alegaram baixa audiência, sem mais nem menos, e tiraram do ar tudo o que ele já havia publicado, anos de trabalho jornalístico, entrevistas, reportagens, artigos... Luiz Felipe de Alencastro, a propósito, atenta para a queima de arquivos eletrônicos ocorrida no caso.

Isto, por si, já faz pensar em como as coisas funcionam na imprensa nacional.

No que diz respeito ao Conversa Afiada (agora em seu novo portal), a abordagem é o extremo oposto da imprensa nacional: doses fortes de governismo, pau na oposição e uma ferrenha luta contra a imprensa – agora com o iG incluído no grupo, todo ele sob a (discreta) sigla de PIG (Partido da Imprensa Golpista). Exageros à parte, não faz mal para ninguém (dado o bombardeio que sofremos ao ligar a televisão ou abrir os principais jornais), desde que tomado com bastante bom senso.

terça-feira, 15 de abril de 2008

Notas sobre a corrida presidencial no Paraguai: candidatos, discursos, dúvidas...

Por José Szwako*

Há “apenas” 61 anos o Partido Colorado está à frente e dentro do Estado paraguaio. Mesmo após o fim do regime stronista em 1989, a Associação Nacional Republicana, como também é conhecida a organização, logrou preservar para si a Presidência da República, em certa medida, com a ajuda indireta das idiossincrasias e das cisões no interior da oposição tradicional (Partido Liberal Radical Autêntico), bem como da esquerda. No contexto político dos anos 1990, a agenda de transição no Paraguai ficou fortemente reduzida à realização periódica de eleições, sem avançar a níveis elementares na constituição de um Judiciário forte e independente e, como se vê, sem um revezamento mínimo entre elites políticas. Com a corrida presidencial de 2008, porém, a velha hegemonia colorada, se não entra de fato em jogo, parece dar fortes sinais de cansaço.

Para falar destas eleições é preciso voltar a fins de 2005, quando Nicanor Duarte Frutos, atual presidente do Paraguai, anunciou candidatura inconstitucional à presidência do Partido Colorado. A manipulação do Judiciário com vistas à ocupação da chefia do partido, ao mesmo tempo em que ocupava a presidência da República, foi “a gota da água”, na expressão de L. Bareiro, “que [em março de 2006] de fato levou à mobilização” nacional. Durante esse ano, a articulação de oposição, também orientada contra a tentativa de re-eleição de Duarte Frutos, se deu em dois níveis: por um lado, levando à conformação da ’Resistência Cidadã’ de cunho mais civil-popular e, por outro lado, à ’Concertación Nacional’, rótulo que agrupava no anti-coloradismo a extrema-direita (UNACE), centro-direita (Partido Pátria Querida), além da oposição tradicional (PLRA). A posição de destaque ocupada pelo então Bispo Fernando Lugo nesse processo fez dele uma “figura aglutinante” capaz, não apenas de unificar a oposição, mas de competir efetivamente contra o Partido-estado colorado. Em fins de 2006, Lugo renuncia à função religiosa e anuncia sua intenção de candidatura. Na segunda metade de 2007, o PLRA passa a apoiar o ex-bispo em troca de indicar vice-presidente da chapa, e, no bojo da coalizão de oposição denominada ’Alianza Patriótica para el Cambio’ (APC), Lugo entra oficialmente na disputa eleitoral pelo Partido Democrático Cristão.

Como notou D. Abente, as desventuras de Duarte Frutos em 2006 e a posterior composição da Aliança colocaram o Paraguai “à beira da transformação”. Hoje, em um cenário bem distinto, a corrida presidencial tem quatro principais candidatos. O ex-general Lino Oviedo (estrategicamente solto da prisão em setembro de 2007, acusado de tentativa de golpe em 1996) concorre pela legenda ultracolorada da União Nacional dos Cidadãos Éticos, UNACE. Algo entre Perón e Chavez, Oviedo conta com o apoio de parte dos estamentos militares e de parte da população rural miserável, e sua retórica é permeada por pontos fascistas, enfatizando lemas como ‘compromisso e segurança‘ ou ‘Deus, Pátria e Família’. No meio das farpas trocadas com Duarte Frutos, e frente às controvérsias quanto à liberdade do ex-general, o ritmo incessante de ofensas pessoais dirigidos contra Fernando Lugo permite ver a função de Oviedo no sentido de deslegitimar a ‘Alianza‘ e de tentar uma migração de votos para fora dela.

Candidato pelo Partido Pátria Querida, Pedro Fadul é um empresário bem-sucedido com base de apoio sobretudo urbana – ponto fraco num país altamente rural como o Paraguai – e cujo discurso conservador, embora agrade parcelas votantes como industriais e agro-produtores, não chega a seduzir o voto de massa. Sem chances reais de vitória na reta final, o candidato de centro-direita afirma publicamente que não pretende apoiar a Lugo, pois, segundo ele, “não se trata de mudar de cor [em alusão ao rubro-colorado versus azul-liberal], se trata de mudar o sistema”.

Com o apoio irrestrito de Duarte Frutos, a ex-Ministra da Educação, Blanca Ovelar, teve sua candidatura após um conturbado e duvidoso processo nas internas do Partido Colorado, quando disputava a vaga com o ex-vice-presidente do Paraguai, L. Alberto Castiglioni. A campanha de Ovelar conjuga elementos de modernização cultural (especialmente por meio da idéia de ter uma mulher no poder, como que ligando o País aos exemplos de Argentina e Chile) e o tradicional populismo do partido oficialista. A estratégia eleitoral colorada repete uma velha fórmula: intimidação e extorsão de funcionários públicos; agressões físicas, algumas delas fatais, contra a militância opositora; comícios nas seccionales com churrasco e transporte gratuitos, para apenas citar algumas. Já no nível da disputa para o Senado, a estratégia consiste em impedir que o eleitorado saiba quem compõe a ‘Lista1‘, talvez porque os altos níveis de reprovação do presidente atual, primeiro candidato dessa lista, preocupam e chegam a roubar votos de Ovelar. Além disso, o coloradismo conta com uma base histórica, porém amorfa: desde uma pequena burguesia produzida durante o regime militar até frações do mundo rural desmobilizado, passando por empresas ‘públicas‘ e pela burocracia estatal partidarizada, sua estrutura e base (militante ou não) surpreendem pelo alcance amplo e enraizado.

A candidatura do carismático Fernando Lugo sintetiza a frustração social ligada aos níveis de pobreza e de corrupção que atravessam o país. Fortemente influenciado pela Teologia da Libertação e advindo da atuação junto aos movimentos campesinos, o discurso de Lugo alterna posições de centro e de esquerda light: mantendo a pobreza como pano de fundo ao tratar de temas como reforma agrária e justiça social, sua campanha permanece estrategicamente ligada ao lema “a mudança segura”. O tom de oposição moderada da ‘Alianza‘ pode ser entendido em relação a três pontos: i) um eleitorado urbano com forte imaginário anticomunista, herdado do stronismo; ii) a idéia difundida pelo oficialismo de que a chegada de Lugo à presidência significaria uma ‘caça às bruxas‘ contra colorados e contra funcionários públicos afiliados; e iii) a difícil equação ideológica entre aqueles que compõem a ‘Aliança patriótica para a mudança‘, a saber, políticos profissionais (liberais e de esquerda), intelectuais, campesinato organizado, católicos divididos, universitários, profissionais urbanos, além de alguns colorados dissidentes. A gama de interesses e de posturas ideológicas dentro da APC (por exemplo, entre o tradicional PLRA e o Movimento Popular Tekojoja), tanto quanto sua capacidade de construção de agenda com prováveis maiorias opositoras no Congresso e no Senado, são algumas das dúvidas levantadas por uma ‘Alianza‘ que abarca mais de 15 legendas e cuja base de apoio é de difícil definição, dado que alcança frações ideológica e socialmente muito heterogêneas do eleitoradoe fundo e.

O tema que agiu como catalisador da corrida e da expectativa popular em torno dos presidenciáveis, apesar de ter perdido fôlego nas duas últimas semanas, foi Itaipu. Enquanto a propaganda do ex-militar falava em “respeito aos contratos”, Lugo ficava numa incômoda posição: para fora, abrir mesas de diálogo, para dentro, trata-se de soberania e justiça. No País e fora dele, diversos analistas concordam que o Tratado de Itaipu é, como afirmou A. Nickson, “escandalosamente injusto para o Paraguai”. A hidrelétrica de fato esquentou a discussão entre votantes. Entretanto, ninguém no processo foi mais enérgico e mais anti-colorado que o ‘ABC Color‘, um dos principais jornais paraguaios, que, não apenas afirmou que um “preço justo em Itaipu pode acabar com a indigência paraguaia em um ano”, como sugeriu, em primeira página, um suposto clima tenso entre os países ligados pela Ponte da Amizade (as matérias foram publicadas nos dias 06 e 09 de abril, respectivamente).

Os pontos críticos da corrida presidencial ficam por conta da escassa exposição de programas substantivos de governo e, especialmente, por conta dos altos níveis de desconfiança no processo e na Justiça eleitoral. Neste último registro, as dúvidas recaem sobre a paquidérmica maquinaria do Partido Colorado, acionada seja por meio de sua ampla capacidade logística para literalmente levar votantes até as urnas, seja através da prática ainda usual da compra de votos. Em contrapartida, são positivas as formas civis de mobilização que pretendem fornecer mais informação aos eleitores, contribuir para a transparência eleitoral, ou fomentar a participação ativa e massiva do eleitorado (exemplos são os seguintes sítios eletrônicos) aquieneselegimos.org.py e saka.org.py.

Na reta final, a menos de 10 dias da eleição, discurso e investimento colorados se intensificam: nas seccionales e nos comícios, falas de tom bélico pedem vigília dos correligionários e o partido dá início à sua contagem de votos a partir de instituições públicas. Os meios de comunicação falam em mais de R$300 mil investidos apenas pelo oficialismo na última semana da disputa. Enquanto isso, a base opositora canta “já ganhou” nos comícios, mas sorri apreensiva devido às inquietações em torno das mesas de votação e também devido à expectativa de ampla participação (quanto maior a participação, maiores as chances de Lugo) no próximo domingo.

O fato é que nunca na história paraguaia a chefia do Executivo passou pacificamente de um partido a outro por vias eleitorais legítimas. As dúvidas não apenas quanto ao resultado das eleições, mas em torno do processo político como um todo impedem um prognóstico seguro, mas uma coisa pode ser dita: o Paraguai pós-Stroessner não é mais o mesmo, o coloradismo e a oposição, também não.

*José Szwako é doutorando em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), onde pesquisa as transformações na relação Estado-Sociedade Civil na Transição Paraguaia. Está no Paraguai como observador internacional da eleições.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Imagens da Campanha no Paraguai: eleições no próximo dia 20

Fotos da campanha para as eleições presidenciais paraguaias.

As imagens foram enviadas pelo observador internacional José Szwako.

Campanha da candidata Blanca Ovelar nas ruas de Assunção. Ela é apoiada pelo atual presidente Nicanor Duarte. Ambos pertencem ao Partido Colorado, organização que está há 60 anos no poder.


Caricatura feita por militantes do nacionalista Fernando Lugo, candidato da Aliança Patriótica para a Mudança.


Foto da coloradista Blanca Ovelar.

O outro candidato é o ex-general Lino Cesar Oviedo, que pertence ao Partido União Nacional dos Cidadão Éticos.

sábado, 12 de abril de 2008

A China e a Democracia

A ascensão da China nas últimas décadas, em especial os primeiros anos desse século, foi simplesmente espetacular. Hoje o gigante asiático se insere no mundo como superpotência, e a previsões dão conta que, se ela não ocupar o lugar dos EUA, pode transformar-se num pólo de poder internacional que terá amplas condições de rivalizar com os americanos. Mas o país tem uma problema que, uma hora ou outra, terá que enfrentar; e as conseqüências para o seu desenvolvimento dependerão dos rumos que a nação tomar. Não estou falando do Tibete, mas sim da democracia.

A nova superpotência não possui nenhum tipo de liberdade política e civil. Apenas nas ZEE’s, zonas econômicas especiais, existe a livre iniciativa de mercado, dimensão secundária e controversa do processo de conquista de cidadania. O regime chinês sufoca os cidadãos, pois aqueles que ousam fazer alguma crítica ao PCCh são implacavelmente perseguidos e geralmente presos. Os chineses já estão percebendo que o acesso aos bens de consumo é muito limitado diante da possibilidade de refletir, escrever, debater, protestar e votar livremente. Ter celular, DVD e carro é bom, mas ter que pensar antes de desferir uma crítica ao governo e se sentir policiado em suas atitudes são coisas terríveis.

A imagem que o grande país queria demonstrar com as olimpíadas vai desaparecendo. A repressão ao povo tibetano, à transformação dos cidadãos em escravos, de um consórcio formado por estado e empresas privadas - já que por lá não existe qualquer proteção legal ao trabalhador - e o completo desrespeito as liberdades individuais e ao meio-ambiente, vão destruindo aquela imagem de nação moderna e cheia de oportunidades (não que elas não existam, mas sob que condições?) que se constituía no imaginário internacional. Talvez as olimpíadas mostrem definitivamente o que a China é: um regime onde o único partido legal tolheu todos os direitos de seus cidadãos e o desenvolvimento está acima de tudo (para o espaço com legislação trabalhista e com proteção ambiental). Tudo isso para a beneficio e manutenção do poder, no sentido mais maquiavélico do termo, do velho PCCh.

Uma frase de Maquiavel parece resumir a atual conjuntura China: “...a guerra não poder ser evitada, mas adiada, muitas vezes em prejuízo próprio...”. A guerra na questão chinesa é pela democracia e como qualquer ditadura tende a se tornar insuportável, os cidadãos, especialmente os do Tibete, parecem estar se apercebendo de tal inevitabilidade. Espero que os chineses possam se deleitar com tudo aquilo que, com muito sacrifício, foi construído em países como Brasil e Índia (sinceramente sou mais esses dois para o século XXI).

Votar é bom, por mais diminuto que possa parecer o voto de uma pessoa.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Infidelidade partidária: o que mudou?

Após a instauração da lei que proibe a mudança de partido pelo detentor do mandato, o TSE (que é executivo, legislativo e judiciário no tocante ao direito eleitoral) e os TREs tentam sem muito sucesso a aplicabilidade da medida.

A insegurança jurídica do TSE legislador é imensa. Isso se deve pela prerrogativa que o mesmo detém de mandar e desmandar nas normas políticas brasileiras. Prova disso é que dos 8.000 casos denunciados de infidelidade partidária, apenas 128 resultaram na perda do mandato (1,5%). Um bom resumo dos dados pode ser encontrado no site do Congresso em Foco.

O TSE legisla mas não avalia o impacto e o efeito que suas atitudes podem ter. A maioria esmagadora desses casos de infidelidade são de vereadores e do interior dos estados brasileiros. Diante disto, os TREs admitem não conseguirem levar adiante os processos, pois as dificuldade de investigação, tramite burucrático e acesso às cidades são inúmeras.

Ainda outros aspectos devem ser considerados. Segundo o presidente da União dos Vereadores do Brasil, Bento Batista Silva, vereador em Juranda (PR), em entrevista ao site supracitado, "Os vereadores de pequenas cidades mudam de partido quase naturalmente, porque geralmente não se atêm à ideologia partidária".

Resumo: o TSE deveria pensar nas questões anteriores antes de legislar. A saber, ao legislativo cabe o poder legiferante. Existem muitas ponderações tão ou mais necessárias do que a fidelidade partidária, para que os partidos tenham condições plenas de tornarem-se "donos" dos mandatos de seus filiados. Não resta dúvida que a fidelidade é importante, mas sozinha tem pouca serventia.

terça-feira, 8 de abril de 2008

O cretinismo parlamentar e a imprensa

Para mim, a Folha de São Paulo figura como o maior (e isolado) exemplo de um arquipélago heterodoxo e algo disforme da imprensa nacional. Embora a sua orientação editorial seja a meu ver muito mais tucana do que qualquer outra coisa, congrega jornalistas e colaboradores de diversas orientações políticas, na maioria preponderantes com os extremos, à esquerda e à direita.

A edição de hoje (08-04-2008) me ajuda nesta constatação. Em uma só página há um sintoma de uma doença e um alerta de um velho guru no assunto. Começo pelo alerta, que é de Carlos Heitor Cony (ótimo cronista e discutível analista político da semana), quem vem com uma frase memorável aos interessados em política:


“Mais de três anos nos separam da próxima sucessão presidencial, mas a classe política – e seu anexo mais espalhafatoso, que é a mídia – não pensa em outra coisa.”


Há dias eu queria discutir isto neste blog. O debate político colocado no país é pífio. A culpa é da classe política e dos embates entre governo e oposição, mas a mídia endossa isso insistentemente. Ou melhor, a mídia é cooptada pelo (pobre) debate público travado entre os políticos, partidos, blocos, e ajuda a fomentar, com desmedido calor, um debate que é justamente o mais interessante para uma classe política que só pensa em polêmica e em eleições.

A doença pode ser observada pelos artigos de Eliane Cantenhêde (ótima analista da cena política e duvidosa crítica) na página 2 da Folha. Seguramente, nos seus últimos 10 artigos diários - e o de hoje vem logo acima da célebre frase de Cony -, 7 ou 8 devem ser sobre Dilma, sobre dossiê da Casa Civil, sobre a “morte” precoce da pré-candidata do governo à sucessão de Lula... Ou seja, sobre o último escândalo a ocupar a atenção dos brasileiros (que lêem a imprensa nacional, diga-se). Não seria muita tinta de caneta e muitas horas de sono gastos com um programa jornalístico de “transparência” que, sabemos, é discutível? Há transparências e transparências, dependendo da clientela do jornal, dependendo de quem controla o jornal, dependendo dos ventos políticos, dependendo de N variáveis.

Mas sigo entendendo que a Folha ainda é, dos jornalões, um último recanto que resguarda espaço para (algumas poucas) incongruências, sobretudo se tomarmos alguns colaboradores com bandeiras ideológicas distantes – Cesar Benjamin e Ferreira Gullar, para ficar nos exemplos mais escancarados. Embora a política editorial seja demasiadamente alimentada pelo “cretinismo parlamentar”, a Folha ainda paga alguns articulistas que assumem posições interessantes, dialogam com ideologias diversas, se reportam a minorias, e dão um tom mais político ao debate.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Pelo instituto das prévias

Muito tem se discutido no meio político sobre o uso das eleições prévias para a escolha dos candidatos a cargos executivos. Essa discussão ganhou corpo depois dos problemas que o PSDB teve para indicar seus candidatos a presidente em 2002 e 2006. Ganha novo impulso hoje, devido à existência de três fortes pré-candidatos por parte dos tucanos (Serra, Aécio e Alckmin) e, principalmente, pela indefinição de quem será o candidato à sucessão do super Lula, incerteza essa, que mexe com alguns partidos, não apenas com o PT.

Os partidos no Brasil têm usado as cúpulas ou a viabilidade eleitoral para escolher seus candidatos a cargos executivos. Nesse processo, filiados e militantes tem sido excluídos, sem nenhum constrangimento da parte dos líderes. Vale nota, que alguns partidos são exceções. O PMDB e o PT são duas organizações que usam com alguma freqüência, porém não de forma sistemática, prévias para indicar seus concorrentes. Mas o PMDB realizou eleições internas entre Garotinho e Germano Rigotto nas presidenciais de 2006, contudo o resultado foi desconsiderado pela direção do partido, que acabou não lançando nem apoiando ninguém à presidência, deixando que as conveniências regionais falassem mais alto. Em 2004, o governo federal pretendia ter apenas um candidato da base nas eleições municipais de Fortaleza, e o escolhido era Inácio Arruda, do PC do B. Luizianne Lins, do PT, enfrentou a cúpula, saiu candidata e venceu Inácio e as eleições. Não há dúvidas, a maior parte dos militantes queria a candidatura própria.

O PSDB perdeu ótimas chances de organizar processos internos mais democráticos. Em 2002 a disputa foi entre Tasso Jereissati e José Serra. A escolha somente pelo cardinalato tucano foi traumática e desnecessária. Serra tinha mais visibilidade, pelo reconhecido trabalho no Ministério da Saúde. Mas Tasso tinha o direito, simplesmente o direito, de pretender ser candidato pelo seu partido. Em 2006 a briga foi tão grande, que os desdobramentos são sentidos até hoje. A rusga entre Kassab e Alckmin tem como raiz a acirrada disputa entre o ex-governador paulista e José Serra, então prefeito de São Paulo, pelo direito de encabeçar os tucanos na eleição presidencial de dois anos atrás

Erros a parte, temos que concordar que nossa democracia é ainda muito jovem. Talvez nós queiramos dela o que ela não pode dar. Por exemplo, o instituto das prévias começou em 1900 nos EUA, é mais velho que o regime democrático no Brasil. Contudo, creio que a democracia já atingiu um nível de desenvolvimento em terras tupiniquins que fazem com que as prévias sejam inadiáveis. Já são quase vintes anos de eleições livres e rotatividade no poder, com isso os partidos e o próprio sistema partidário se institucionalizaram. Portanto, a despeito da juventude, não infância, de nosso regime democrático, já está mais do que na hora das organizações partidárias, algumas com mais de 1 milhão de filiados, começar a envolver seus militantes nas decisões cruciais. Muitas vezes esquecemos, diante de críticas pouco fundamentadas, feitas por pessoas que se baseiam apenas no senso comum, que os eleitores se referenciam em algumas legendas, não sendo, portanto, sujeitos políticos completamente amorfos. Às vezes, desconsideramos o fato dos partidos funcionarem como tais na arena parlamentar, e deixamos de lado a gritante evidência que é a evolução organizacional de algumas siglas importantes. Diante de tudo isso, penso que a extensão dos métodos democráticos, ou seja, o uso deles para regular conflitos internos aos partidos, dará contribuição decisiva para o fortalecimento das organizações partidárias e da própria democracia.

Com o tempo, assim como acontece com o regime democrático mais amplo, as prévias entrarão no cálculo dos líderes políticos, que não mais procuraram meios para evitá-las. Os derrotados aceitarão o resultado, e não visaram meios para anulá-lo, até porque terão a certeza de que elas acontecerão novamente. Espero que no futuro, excluir das decisões essenciais militantes e filiados, seja tão abominável quanto a infidelidade partidária ou nepotismo. Porém política é poder, e para conquistar e manter esse último vale tudo, até evitar ou empurrar prévias goela abaixo. Veremos o que acontece.

Poder em foco

O post do Prof. Sérgio Braga sobre a internet abaixo me fez pensar algumas ponderações acerca do malogro da centralização do poder nas democracias latino-americanas.

Iniciativas como as da Câmara dos Deputados do Brasil, permitindo o maior acesso aos projetos e perfis dos congressistas, são sem dúvida benéficas. Mesmo que de forma mínima, a internet potencializa a participação e o contato com a política por um meio próximo aos indivíduos, à exemplo do Chile (caso citado na entrevista com o Prof. Sérgio Braga na revista Ciência Hoje).

Porém, diante deste ganho para a democracia representativa, temos que apenas 21% dos domicílios brasileiros possuem acesso à internet. Estes 21% concentram usuários com renda per capta de média R$ 1.000,00, 28 anos de idade em média e tempo médio de escolaridade de 10,7 anos (Fonte: PNAD, IBGE). Pois bem, ainda são os que tem algum recurso que acessam a rede (sabendo que o acesso é feito majoritariamente por usuários das classes A, B e C - http://www.datafolha.com.br/) e um grau de instrução mais elevado (visto que a média de escolaridade do brasileiro é de 7,4 anos - dado da FGV).

Sabendo desta exclusão torna-se ainda mais importante a popularização do acesso à rede mundial de computadores. Isso coloca o índividuo numa posição ativa no jogo político. Dentro das limitações possíveis, a internet permite que a ação de cada um não se limite apenas ao voto.

Ainda resta um problema a ser superado. Enquanto existirem as figuras dos mandatários locais (coronéis, senhores de casa grande, e etc.), líderes de comunidades, figurões e outros tantos folclóricos no Brasil, será difícil uma percepção do potencial que cada indivíduo carrega em si para o exercício de vontade. Nas comunidades, usualmente carentes e menos instruídas, os líderes exercem sua vontade sem questionamentos e assumem o ônus do erro e da culpa, sem que os liderados preocupem-se com as decisões tomadas e suas consequências.

Talvez inciativas de participação cibernética e popularização de acesso possam revelar um caminho para a descentralização de poder legiferante e um acréscimo na participação política.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Importância da internet para a cidadania, segundo Ciência Hoje

Enquanto o TSE divulga um "balão de ensaio" com uma absurda e escalafobética proibição de "propaganda eleitoral" pela internet (assunto que comentaremos oportunamente neste blog), a revista "Ciência Hoje" publica entrevista na qual um pesquisador da UFPR aborda as possibilidades e limites da internet e dos portais legislativos para ampliar a cidadania e estimular a cultura cívica da população, especialmente dos mais jovens: http://cienciahoje.uol.com.br/116156

Embora não cheguemos ao exagero do alcaide do Rio de Janeiro, César Maia, de julgar-se capaz de "gerenciar" uma epidemia de dengue por e-mail, não resta duvida que a internet é um precioso recurso que, adequadamente utilizado, pode inclusive vir a criar algo que se assemelhe a uma "esfera pública virtual".