segunda-feira, 31 de março de 2008

Enéas Carneiro

Muito está se discutindo, tanto nesse blog, quanto nos grandes mass media, a eleição presidencial próxima. Publicada pelo Datafolha as intenções de voto para o pleito que alardeiam a posição de franco favorito ocupada pelo tucano José Serra, em todos os cenários.

Quero aqui, entretanto, chamar a atenção para outro fato, que parece ser esquecido pelos articulistas: as intenções de voto em uma mulher, da esquerda, alagoana e professora universitária. Estou falando de Heloísa Helena Lima de Moraes Carvalho que, no certame de 2006, obteve os míseros 6,850% dos votos. Aparecia em 28/06/2006 com 6% das intenções de voto saltando para 11% em 21/08/2006. Aparece agora com o mínimo de 12%, passando a 14% das intenções de votos, em terceiro lugar e em outro cenário com 17%, já em segundo lugar. A que se deve tal aumento nas intenções de voto da ex-senadora?

Apesar de nebulosas, cabem alguma ilações.

O partido de Heloísa Helena, o PSOL, tem seu nascedouro de uma cissão da ala de extrema esquerda do Partido dos Trabalhadores. Ainda embrionário, sem uma estrutura burocrática e eleitoral apta a competir nas cenas federal, estadual e municipal, agrega nomes de peso, como a deputada federal Luciana Genro (RS), conta com apenas 3 deputados federais, (Chico Alencar -RJ e Ivan Valente - SP) e um senador, (José Nery - PA). Assim, não podemos concluir que o aumento nas intenções de voto se devem ao PSOL.

Assim, a única conclusão que resta é que a ex-senadora arrebatou para si, em razão do seu carisma, uma parcela do eleitorado que vota na esquerda. Apesar da clara pulverização dos votos da esquerda no legislativo em razão da enormidade de legendas (PSTU, PCB, PC do B, PSOL) e suas diferenças ideológicas (trotskistas, leninistas e maoistas, stalinistas, e a lista segue) a esquerda nunca teve um nome agregador no plano executivo federal. Podemos supor que o aumento das intenções de voto de Heloísa Helenam então, se deva à falta de um cadidato à esquerda e ela preenche esse vazio.

Fica a dúvida: será ela o próximo Enéas?

quarta-feira, 26 de março de 2008

PSDB e DEM na eleição paulistana: uma batalha de facções

PSDB e DEM estão em disputa em São Paulo. Querem candidatos próprios, mas têm em sua história a marca de uma parceria (eleitoral, administrativa e ideológica) indelével. Isto é válido para o plano federal e, de forma mais acentuada, em São Paulo.

No plano federal, quando cada um saiu com candidatos próprios (Serra e Roseana Sarney, em 2002), contribuíram para o naufrágio mútuo. A história pode se repetir em São Paulo, em 2008.

Hoje, há um vídeo e uma matéria no UOL notícias em que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso acena para um contexto de rompimento da aliança eleitoral PSDB-DEM em São Paulo:


"O ex-presidente confirmou a versão dada pelo presidente do PSDB, Sérgio Guerra, de que os tucanos terão candidatura própria para a Prefeitura de São Paulo, encerrando assim a aliança com o DEM, partido do atual prefeito Gilberto Kassab. O candidato do PSDB deve ser mesmo o ex-governador Geraldo Alckmin, segundo ele."

E ainda,


"Para FHC, apesar da divisão no PSDB paulistano, o partido apoiará integralmente o candidato escolhido."


Será?...


José Serra apóia a candidatura Kassab, manifesta seus ressentimentos com a rasteira de Alckimin em 2006 e vê que o seu domínio no estado poderá ficar prejudicado, o que levaria ao enfraquecimento de seu nome para a presidência perante Aécio Neves em 2010.

Tal conjuntura é conhecida, já se desenrola desde o ano passado. O que interfere de maneira mais crítica na campanha e no resultado das eleições é se, de fato, o PSDB paulistano irá mergulhar unido na campanha Alckmin. Só FHC tem tanta certeza disso:

O tucano Antônio Carlos Malufe - o "Malufinho" - cujo currículo de serviços prestados à aliança PSDB-DEM é extenso (incluí secretaria particular de Mário Covas, secretaria da administração Alckmin e secretaria da administração Kassab), afirmou que seu voto é de Kassab. Em entrevista à Folha de São Paulo (para assinantes), afirmou que a candidatura Alckmin é um equívoco. Se o caso de “Malufinho” for a regra entre o alto e médio escalões do tucanato na prefeitura, Alckmin vai à batalha sem quase ninguém: sem o governo federal, sem o governo do estado e sem a prefeitura.

Alckmin tenta reverter este quadro, pegando no braço de quem pode para angariar apoio dentro do partido ao seu nome:

Na foto, Alckmin segura no braço de "Malufinho"...

Como funcionam as eleições para Presidente nos EUA?



André Ziegmann

Essa é uma pergunta que muita gente está se fazendo. A corrida presidencial americana, talvez a mais longa do mundo - pois começa em janeiro, com o início das prévias, e termina em novembro, com a eleição de fato - está deixando muita gente curiosa, ainda mais quando acompanhamos uma acirrada disputa, entre Barack Obama e Hillary Clinton, pela vaga do partido democrata.

O pleito ocorre basicamente em duas partes: primeiro acontecem às prévias, quando os principais partidos, republicano e democrata, escolhem seus concorrentes. Depois, após as convenções que oficializam os candidatos, começa a disputa entre os escolhidos, que culminará na eleição do novo presidente dos EUA.

As prévias

Políticos filiados aos partidos republicano e democrata, apresentam seus nomes às respectivas organizações com a intenção de concorrer à presidência. Começam então as disputas por delegados. O pré-candidato que atingir primeiro a marca pré-fixada de delegados (1191 pelos republicanos e 2025 pelos democratas), ou se houver a desistência dos demais concorrentes, é indicado pelo partido para concorrer à Casa Branca.

A escolha dos representantes que irão às convenções, é feita de modo federativo, ou seja, cada estado um dos 50 estados norte-americanos organiza a disputa como quiser, não variando só as datas, mas a forma de escolher os delegados e quem pode votar.

São duas as maneiras de escolher os delegados: o caucos e as primárias. Os caucos são assembléias de eleitores. Um grupo de pessoas indica por aclamação um representante. Grupos menores geralmente se fundem com coletivos maiores para indicar um delegado. Nas primárias, o pré-candidato conquistará o número de delegados correspondente à porcentagem de sua votação. Portanto, se o concorrente fizer 30% dos votos, terá ganho um terço dos representantes daquela unidade federativa que irão a convenção. Os delegados podem ser escolhidos através de um método, primárias ou caucos, ou através da combinação dos dois, quando uma parte dos representantes é eleita pelo caucos e outra pelas primárias. Quem pode votar também varia de estado para estado. Em alguns só os votantes pertencentes às organizações podem participar do processo, em outros elas são abertas, não importando se o eleitor é filiado ou não, podendo até ser membro do outro partido.

Nota sobre os superdelegados

No Partido Democrata existem os superdelegados. Eles não são selecionados nas prévias. São escolhidos entre os membros do diretório nacional da sigla, os que possuem cargos eletivos e os líderes partidários de relevo (como ex-presidentes). Totalizam 800 representantes, que não possuem compromisso com nenhum pré-candidato. Mesmo aqueles que anunciaram apoio a algum deles podem mudar de idéia e votar diferente na convenção.

Entre os republicanos não existem superdelegados. No entanto, 123 membros do comitê nacional daquele partido não precisam declarar apoio a nenhum presidenciável, tendo liberdade para escolher o pré-candidato de sua preferência na convenção.

As Eleições de Fato

Após a escolha dos partidos, começa a eleição de fato, quando democratas e republicanos enfrentam-se. A escolha do presidente é no mínimo peculiar, para não dizer estranha.

Na “América” o voto é distrital, ou seja, os eleitores de uma determinada região, (bairros, condados ou paróquias, no caso da Louisiana), escolhem um congressista para representá-los na Câmara por dois anos, isso mesmo, lá os deputados têm mandato de dois anos. No tocante ao Senado, cada Estado têm direito a duas cadeiras, número fixo, assim como no Brasil. Os senadores têm mandato de seis anos. A Câmara dos Representantes, com seus 435 membros, e o Senado, com seus 100 ocupantes, formam o Colégio Eleitoral, sendo essa instituição que torna a eleição do mandatário americano no mínimo singular.

Quando o cidadão resolve sair de casa para votar (se ele ficar no aconchego do lar e não participar da “festa de democracia yankee” não tem problema, pois lá o voto não é obrigatório), ele tem em mente que, ao escolher um deputado e um senador, estará automaticamente votando num candidato a presidente. O voto por lá não é no concorrente à Casa Branca (existe o chamado voto popular, que explicarei a frente), mas sim nos candidatos às duas Casas Legislativas. Por exemplo, quando o eleitor escolhe um deputado e\ou senador que pertença ao Partido Democrata, estará instantaneamente escolhendo o candidato a Presidência dessa organização. O candidato do partido que obtiver o maior número de cadeiras no Colégio Eleitoral (que nada mais é que o Congresso eleito, no momento em que oficializa o novo chefe do Executivo) é o novo presidente dos EUA.

O sistema descrito acima, portanto, parece até um parlamentarismo com nome de presidencialismo. Parece, mas há diferenças. O mandato do presidente é fixo, e o Congresso não pode ser dissolvido. O secretariado não emerge do parlamento e não é ocupado obrigatoriamente por deputados eleitos. Uma maioria legislativa não indica um congressista para ser o primeiro ministro (chefe de governo), cargo, aliás, que não existe por lá e talvez essa seja a diferença fundamental entre o modelo americano e os regimes parlamentares. Nos EUA, assim como nas nações parlamentaristas, a escolha do Executivo está atrelada à eleição do Legislativo. Entretanto há muitas diferenças entre os países. Na “América” quando os cidadãos elegem o Poder Legislativo, simultaneamente escolhem quem será o novo Chefe de Estado e de Governo, que é o presidente. Na Alemanha, os eleitores, ao votarem em seus parlamentares, automaticamente apontam quem será o novo primeiro ministro, que é o chefe de governo. O chefe de Estado, personificado na figura do presidente, é eleito depois, quando os legisladores já foram escolhidos, não havendo, portanto, ligação entre essa eleição e o pleito legislativo. Na Inglaterra a chefia do Estado pertence à rainha, e o chefe de governo é eleito da mesma forma como na Alemanha. Na França, a eleição do primeiro ministro segue o modelo alemão e inglês, ou seja, o partido ou coalizão que obtiver mais cadeiras no legislativo indica o novo chefe de governo. Contudo, o presidente é eleito como no Brasil, o candidato mais votado é o vencedor.

Nos EUA existe ainda o instituto do voto popular. O eleitor vota no presidente de sua preferência, contudo isso não conta para nada. O que vale mesmo é o voto no parlamentar, e o número de cadeiras que o partido do candidato à Casa Branca conquistará no Congresso Americano.

Realmente a escolha do presidente americano é bastante complexa. Começam com as prévias, passa pela tradicional disputa entre republicanos e democratas e culmina no famoso colégio eleitoral. Tudo isso temperado com uma alta dosagem de federalismo e variadas formas de escolher um representante político. No Brasil, apesar de todos os problemas, as coisas são mais simples e diretas.

sábado, 22 de março de 2008

Teoria e prática das poliarquias "consolidadas"

Para quem pensa que são só os Estados totalitários de partido único que têm por hábito prender e arrebentar os opositores de suas políticas expansionistas (cf. o caso do Tibet), é bom fazer uma visita ao website de Michael Moore: http://www.michaelmoore.com/ Lá, o eventual internauta desiformado poderá ver inúmeros, centenas de exemplos de atividades repressivas e prisões políticas (algumas das quais vitimando adolescentes de menos de 16 anos) a manifestantes contra a ocupação do Iraque pelos EUA S.A., como se sabe executada à revelia da ONU e de toda a opinião pública internacional. Entretanto, enquanto abundam na web as manifestações a favor do "Lama", nada é dito sobre os prisioneiros políticos norte-americanos. Por quê?

sexta-feira, 21 de março de 2008

Mídia e Política

Circulam pela internet duas mensagens interessantes sobre as relações entre Mídia e Política, que nos informam muito mais sobre o assunto do que as sulfurosas planilhas de centimetragem e "valência" utilizadas pelos politógos desta e de outras plagas para mensurar o imensurável, ou seja, o viés (ou ausência de) ideológico que determinados órgãos da imprensa possuem por este ou aquele candidato, este ou aquele político.

O primeiro destes "posts" é um trecho de uma entrevista do atual governador do Paraná, Roberto Requião, acusando a mídia de tratar de maneira desigual dois notórios políticos "puladores de cerca" que tiveram filhos fora do casamento, coincidentemente em decorrência de relacionamento fugazes com jornalistas. Um destes políticos, cujo "case" fora do casamento foi amplamente divulgado pela mídia, é o ex-presidente do Senado (renunciou ao cargo, para quem não se lembra) e atual senador [ aqui com seu novo relacionamento], Renan Calheiros, portador de sobrenome de ilustre tradição na família alagoana. O segundo deles, o eterno dândi da burguesia "associada" brasileira, ex-"terrorista" (pelos critérios de Mme. Rice e Olavo de Carvalho) e presidente da República, FHC, também companheiro de Renan em alguns infortúnios conjugais.

Pois bem. Esses eventos aparentemente sem importância, terminam adquirindo um significado político na medida em que, durante os oito anos do mandato FHC, a mídia silenciou ampla e coordenadamente sobre o assunto, enquanto que no segundo caso, com o perdão do pleonasmo, a musa denunciante teve direito até à entrevista coletiva no programa de uma expert no assunto, Srta. Hebe Camargo, a quem não se pode acusar de ser lacerdista. Essa assimetria no tratamento entre os dois acontecimentos é o mote da entrevista do governador Roberto Requião (assista aqui). Cabe ao leitor eventual julgar e opinar sobre a validade dos argumentos do governador paranaense.

Outro episódio que merece meditação e leitura atenta é a desconstrução da revista "Veja" efetuada por Luís Nassif em seu blog: http://luis.nassif.googlepages.com/ Ao longo dos sucessivos episódios da série, Nassif fornece importantes informações sobre a história da linha editorial de Veja e sobre o perfil de alguns de seus colaboradores. Recomenda-se ler o material junto com "Recordações do Escrivão Isaías Caminha", de Lima Barreto. Estranhamente, a revista Veja não se defendeu das acusações, apenas moveu um processo destemperado contra o jornalista. Como o direito de defesa é uma instituição sagrada no Estado de Direito (novo perdão do pleonasmo) abrimos este espaço para aqueles que quiserem defender a revista e seus colaboradores das acusações de Nassif.

quarta-feira, 19 de março de 2008

Mais uma do porão teatralesco

Ontem na Comissão de Educação atores globais e diretores de teatro pospuseram a criação de uma pasta específica para a captação de recursos para o "setor" (cfe. matéria na FSP de 19mar08, clique aqui para ver).

Até onde vai o meu raso conhecimento o teatro não é uma atividade, nem um assunto estratégico que mereça uma secretaria especial (e com caráter de ministério). Para lém disso os artistas já são presenteados com a Lei Rouanet (mote de artigo neste mesmo blog em 02ago2007) e pelo dinheiro -suado e miado - de quem paga uma alta quantia para assistir ás peças teatrais.

Em Curitiba começa hoje o "Festival de Curitiba" - não mais de "teatro", pois contempla outros espetáculos como circo e dança - patrocinado por empresas privadas e dinheiro público, qual seja, meu dinehiro também está lá. Serão 10 dias de encenações e apresentações que vão de peças infantis á comédias adultas. Cada ingresso custa em média 20 reais, meia para estudantes e alguns benefícios para clientes do banco que patrocina a peça. Se eu apresentar meu carnê de IPTU eu ganho desconto na entrada? Visto que sou trabalhador e não mais estudante?

Não é só a classe política que tem suas atividades desvinculadas ás atividades ordinárias dos cidadãos. A classe artística apresenta o mesmo comportamento. Porpõe para si e em si benefícios que estão distanciados diametralmente aos benefícios que outras classes muito mais importantes desfrutam. E para completar, estão pleiteando uma atividade estritamente política e estratégica a seu favor.

De novo os atores, atrizes, diretores e todo o resto envolvido nisso usa dinheiro público, fatura com os espetáculos e os únicos que assistem ás encenações são os ricos. Poucos são os programas que levam este lado da cultura para os lugares mais pobres, e, além do mais, pobre está mais preocupado em comer e vestir do que ver a Letícia Sabatella num monólogo sobre a reflexividade do ser humano diante dos grilhões infâmes da sociedade burguesa.

terça-feira, 18 de março de 2008

O Véu da Noiva

Em artigo para o site jurídico Última Instância, o articulista Josué Maranhão aponta para a possível fusão, quase que impensável do Partido dos Trabalhadores e do Partido da Social Democracia Brasiliera, casamento esse que pode ser sacramentado nas eleições de 2010.

No meu ver, assim não parece ser o caminho que será tomado no pleito federal. O PT está pendendo muito mais para o lado de uma aliança com o PMDB. Dentro do partido, Jacques Wagner e Dilma Rouseff estão sendo os nomes cogitados e fora dele, o nome de Ciro Gomes vem tomando corpo. Só que uma aliança com Aécio Neves não significa, necessariamente uma fusão entre os dois partidos. O mais provável seria a migração de Aécio Neves para o PMDB, com o apoio de um vice petista, em razão do abandono de bandeiras extremadas. O PSDB está satisfeito com o desempenho de seus pré-candidatos, notadamente, José Serra.

Contudo, ainda que assim fosse, o maior obstáculo à malfadada idéia do articulista é a concepção de Estado de cada partido encerra. Quando observamos os 8 anos de governo de FHC, resta clara a concepção de Estado Mínimo. O PSDB defende a redução do Estado para tratar apenas de determinados assuntos, e isso ficou claro com as privatizações do sistema de Telefonia e da Vale do Rio Doce. Deixou de lado, questões como redução das desigualdades sociais, fome, só para ficar nesses exemplos.

Já o PT, para além do Estado mínimo na economia agiu de forma a intervencionista, criando ou aperfeioçoando uma série de programas federais de reinserção da população mais carente (PROUNI, FIES, implantação de novas Universidades e CEFETs, unificação dos programas sociais no Bolsa Família).

As representações do Leviatã para cada um desses partidos são diferentes: Estado Mínino x Estado "Social". Por conseguinte, os nubentes, no final das contas, acabarão por discordar das esponsais.

segunda-feira, 17 de março de 2008

Partidos afinados, eleitores nem tanto

Na Folha de São Paulo de hoje duas matérias aparentemente não complementares chamam a atenção. A primeira sobre o afastamento dos eleitores frente aos partidos e a aproximação dos primeiros com as "bandeiras", em seguida palavra do ex-presidente tucano FHC clamando a união do PSDB.

Duas interpretações sobre tais matérias vislumbro no momento. Uma de acordo com a queda da popularidade do PT (mesmo com a manutenção da popularidade de Lula) e a desmistificação do Partido dos Trabalhadores, leva-nos a entender que o eleitor está ainda mais confuso quanto ás posições ideológicas de cada partido no Brasil. A segunda interpretação é que as elites políticas estão agindo de acordo com um cálculo estratégico, ou seja, estão tentano puxar mais "brasa pra sua sardinha".

Como isso se explica? De duas formas: o PT além de pulverizar sua inserção no território nacional, perdeu um pouco a característica de partido de esquerda e de setores notoriamente conhecidos (funcionalismo público, professorado, estudantes, trabalhadores urbanos). Assim o partido deixou de abocanhar grande parcela da identificação com o eleitor. Segundo que os partidos começam a notar que o eleitor fiel pode ser uma grande ferramenta, num momento de altos custos (monetários) de campanha e franca escassez de líderes políticos.
O que quero dizer é que a sustentação de um eleitor partidário e menos personalista traz maiores ganhos á longo prazo para os partidos. E, somente num momento de crise de renovação política, é que os quadros partidários resolveram partir para tal estratégia.

A política não é inocente e não acontece ao acaso (mesmo reconhecendo que a divina providência faça parte da arte da política). Os arranjos sugeridos e bradados no momento são resultado de uma conjuntura política que "precisa" de um novo modo de ação. Assim o PT deposita suas forças nas prévias regionais, o PSDB sugere a união e a criação de prévias e, até mesmo o fragmentado histórico PMDB prima pela coesão e pela união.

quinta-feira, 13 de março de 2008

Quem planta, colhe

Novo decreto regulamenta prerrogativas dos ex-presidentes

Por Sérgio Soares Braga

Surfando na sua popularidade causada pelos altos índices de crescimento do capitalismo brasileiro, pelo eficiente gerenciamento da coalizão de governo e do PAC pela ministra Dilma (muito mais competente que o antipático Zé Dirceu e 40 seus companheiros), e pela inoperância da oposição conservadora em apresentar uma alternativa real de governo, o presidente Lula encontrou uma maneira elegante de desmentir que irá concorrer a um terceiro mandato, como andaram espalhando por aí alguns jornalistas de alcova: expediu um decreto regulamentando algumas mordomias aos ex-presidentes da República, tais como o direito "a quatro servidores para atividades de segurança e apoio pessoal (sic); dois veículos oficiais com respectivos motoristas e assessoramento de dois DAS". [clique aqui para ler o decreto]. O decreto regulamenta outro, anteriormente baixado pelo governo Itamar Franco, e não explica nem justifica em seu texto a indispensabilidade de tais mordomias, financiadas com dinheiro do Estado, aos ex-ocupantes da curul presidencial. O decreto passou em brancas nuvens na imprensa e na própria oposição, evidenciando que tais privilégios absurdos já foram naturalizados como "direitos" por importantes segmentos da opinião que se publica.

Positivamente, a oposição conservadora está colhendo os frutos do que plantou. Alardeando por longos anos que Lula traria o "caos" e a crise do capitalismo brasileiro por seu suposto "socialismo", "despreparo" e "falta de escolaridade", é obrigada a testemunhar inerme os altos índices de aprovação do presidente que surfa aparentemente incólume aos ruídos das acusações de tucanos & DEMOS. O que significa que Lula será uma figura importante e influente no próximo pleito presidencial, e não um novo FHC ou um novo Figueiredo.


Sérgio Soares Braga é professor de ciência política da UFPR.

terça-feira, 11 de março de 2008

Eleições 2010 - Partido Republicano Paulista e Partido Republicano Mineiro

As eleições de 2010 já está ganhando os primeiros entornos. Os partidos com maior representatividade no Congresso (PMDB, PT e PSDB) começam a pensar em possíveis candidatos e estratégias para o pleito nacional.

O PSDB, é o partido com mais presidenciáveis: Aécio Neves, José Serra e Geraldo Alckmin. José Serra, atual governador de São Paulo, que detém uma parcela considerável dos filiados, está em grande vantagem entre os concorrentes e com reais possibilidades de ser eleito. Aécio Neves, isolado dentro de seu partido, com apoio apenas de Tasso Jereissati, está tentado uma aliança quase que impossível de ser pensada no plano federal: aliar-se ao Partido dos Trabalhadores, mostrando seu apoio ao canditado petista para a municipalidade de Belo Horizonte. Para ele, ex-emedebista, estaria vislumbrando a volta ao poder no PMDB. Geraldo Alckmin, quase que sem chance, aguarda cair em seu colo o Governo de São Paulo.

O Partido dos Trabalhadores, apresenta dois candidatos prováveis: Jacques Wagner e Dilma Rousseff, ambos insossos, e quase sem chance de ganhar o pleito. A chance do governo, conforme dizem algumas correntes, seria uma aliança. Uma aliança com Aécio Neves dentro do PMDB.

O PMDB por suas características internas, sempre buscando uma unificação mitológica de tempos passados, tem o nome do Ministro da Defesa Nelson Jobim. Contudo, o principal flerte e principal chance do manda brasa é Aécio Neves. O nome do presidente "pé de valsa" mineiro II é o mais viável para o partido, independente de uma possível coligação com o PT.

Vale observar atentamente a movimentação no PSBD paulista e mineiro e PMDB nacional para traçar possíveis cenários presidenciais. Ainda vivemos sob a política do café com leite. Será que a diferença reside nos partidos?

segunda-feira, 10 de março de 2008

Update - Folha de São Paulo - 10 março 2008


sexta-feira, 7 de março de 2008

América Latina: barril de pólvora ou migalhas da guerra fria?

Será Chávez o novo Fidel? E, com (na onda do Oscar) sangue negro nas mãos? Pelo menos para os Estados Unidos parece que sim. Pouco notei nos principais diários brasileiros a ligação direta entre Colômbia e EUA e suas consequência para o tema do momento.

Está mais do que claro que o presidente venezuelano tem se empenhado em ter as Farc sob sua tutela e ainda posando de humanista. Não que ele não o seja, mas me parece um tanto suspeito a liberação de reféns sequestrados pelas Farc apenas com um telefone amigável do chefe do executivo da Venezuela. Como diria minha avó, tem peixe nesse angu.

De outro lado, a Colômbia que não tem grandes reservas energéticas, nem grande potencial bélico desafia o apoio velado de Caracas ás Farc e á Quito. Tendo acreditar com uma leitura rasa da conjuntura internacional que Uribe não está sozinho nesta.

Desta vez nem conspiração precisamos, os EUA, CIA, FBI, Bush e todos os atores envolvidos em qualquer conspiração que se preze, estão atuando de forma explícita na América Latina. Não resta dúvida que os EUA apoiam a Colômbia justamente contra a Venezuela, que tem um bom diálogo com as Farc.

A rede intrincada de informações que aqui encontramos chega a dar nó no raciocínio lógico. Mas de dividirmos as forças seremos simplistas: o amigo de meu amigo é meu amigo; o amigo de meu inimigo é meu inimigo. O tema é o mesmo de sempre, os EUA continuam em sua cruzada histórica contra o fim do socialismo e seus derivados. O petróleo está no meio. Desta vez sim, mas em Cuba não tínhamos este elemento e as tentativas de matar Castro foram nada menos do que 638 vezes. Ou seja, o amigo de meu amigo nem sempre é meu amigo.

A luta política não está sujeitada simplesmente ao economicismo ou ao instrumentalismo. Valoriza-se a soberania das nações latino-americanas. Talvez Bush tenha se referido a mesma soberania do Afeganistão ou do Iraque. E talvez ele seja mais economicista do que pensamos.

Maquiavél já ensina em 1500: nem sempre a aliança com o mais forte é a mais frutífera. Depois da conquista o forte liquida o fraco. O Brasil parece ter aprendido uma importante lição diplomática e está, como sempre, fazendo o papel conciliatório. E a Colômbia e a Venezuela parecem não ter aprendido muita coisa.

A partir de hoje gravarei todas as minhas ligações telefônicas.