sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

como funciona a imprensa em Curitiba

Luiz Domingos Costa

Os deputados estaduais paranaenses aprovaram um plano de aposentadoria para si mesmos e funcionários da Assembléia Legislativa na madrugada da última seção legislativa do ano de 2008. Sem mais, a matéria entrou na pauta subitamente e foi aprovada sem o registro dos votantes pró e contra, já que o painel eletrônico foi desligado.

Queriam evitar o desgaste natural de uma medida que garante uma aposentadoria altíssima para deputados que passam alguns anos pela Casa. Isto é discutível e a imprensa deveria fazer o estardalhaço de sempre, mesmo que depois da matéria aprovada e dependente apenas da sançao do governador estadual. Pois, não bastasse a raiva que a população tem de medidas assim, os meios adotados foram dignos de procedimentos mafiosos.

Poucos organismos da imprensa local se manifestaram, emitindo notas ou matérias bastante insossas, sem a indignação típica que ecoa em matérias sobre o aumento do gasto do Estado e coisas afins.

Um das poucas vozes que se levantaram foi a do jornalista Gladmir Nascimento, ex-diretor de jornalismo da Rádio Band News de Curitiba. Em tom ácido, Gladmir - que é muito respeitado por seu trabalho de implementação e condução da Rádio - comparou os parlamentares a ladrões de galinhas, que agem à noite e às escuras.

Não fosse Curitiba uma cidade atrasado em termos de imprensa, opiniões divergentes e uma classe dominante minimamente afeita aos valores democráticos, essa notícia surpreenderia: alguns parlamentares pediram a cabeça do jornalista ao proprietário das rádios de Curitiba, o empresário Joel Malucelli. O pedido foi atendido e Gladmir Nascimento não responde mais pelo jornalismo da Band News FM.

O pior é que ninguém falou no assunto, nem mesmo os blogs que são os meios nos quais correm todo o tipo de fofoca e proselitismo jornalístico. Esses jornalistas-blogueiros locais dão os continuados sinais de seu chapa-branquismo.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

USP 75 anos


A Universidade de São Paulo completa 75 anos. Boa oportunidade para para pensar sobre a universidade no Brasil no momento em que a "menina dos olhos" das universidades brasileiras completa aniversário. Responsável por 25% da produção científica nacional e uma das maiores da América Latina, a USP tem grandes e inequívocas vantagens em relação às tantas demais instituições universitárias do país, a começar pelo orçamento de 3 bilhões anuais. Mas os méritos são evidentes, basta uma rápida busca por recentes balanços sobre a Universidade: aumento do número de matrículas, crescimento do volume de artigos de relevância científica (comprovados por indicadores internacionais), aumento do número de professores, entre outros.

Nem tudo são flores, entretanto. Sobretudo no que diz respeito aos projetos futuros, a USP enfrenta turbulências sobre objetivos e rumos, tudo conectado com as dúvidas e hesitações presentes a todas as universidades públicas do país. Falar que o desenvolvimento científico é condição para avanço econômico e competitividade internacional é jargão. O debate - aberto pelos jornais impressos - deve seguir pelas divergências políticas presentes tanto dentro do campo acadêmico como no meio político profissional: financiamento, autonomia e prioridades estratégicas. Nesse sentido, é claro a divergência entre dois projetos. O primeiro, que advoga a cobrança de mensalidades, a captação de recursos junto à iniciativa privada e doações, colado no modelo norte-americano, com maiores rendimentos científicos e menores pretensões de massificar a educação e a formação de mão-de-obra qualificada. E outro, mais confuso e menos elaborado, defende a importância social da universidade em formar trabalhadores qualificados, aumentar o acesso ao ensino superior aos estratos sociais mais baixos e manter a responsabilidade orçamentária do Estado. Estes seriam os modelos "puros" das duas posições, já que tanto na imprensa como dentro das universidades, há matizes aqui e ali, misturando certos aspectos de uma e de outra.

Esse assunto interessa à universidade brasileira, já que dele depende também outras modificações urgentes, como a legislação orçamentária excessivamente restritiva, a burocratização interna dos procedimentos acadêmicos, a desigualdade regional ente as instituições e assim por diante.

de general a político e estadista


Ninguém na história teve o poder que me pede agora. Nem César, nem Alexandre, nem ninguém, nunca.”

(Winston Churchill, primeiro-ministro do Reino Unido ao general americano D. Eisenhower).


Essa é uma das frases que abre o filme Ike: o Dia D (”Ike: Countdown to D-Day”, EUA, 2004).

O filme conta os 90 dias que antecederam a invasão da Normandia, uma das principais batalhas da Segunda Guerra Mundial, responsável por iniciar a retomada da França do domínio nazista. Mas o filme é muito mais bem suscedido em demonstrar como Dwight “Ike” Eisenhower se tornou o general mais importante do estágio final da segunda guerra e um dos grandes líderes políticos do pós-guerra.

Escolhido entre uma dúzia de generais bem suscedidos em diversas batalhas da segunda guerra para liderá-los em uma operação de várias frentes, Eisenhower é o “comandante supremo” não apenas de uma batalha, mas o responsável por domesticar egos inflados, coordenar as distintas tradições militares dos países aliados e ainda ter de lidar com múltiplas dificuldades estratégicas de uma operação gigantesca.

Não fosse uma certa profusão confusa de detalhes militares, o filme poderia ser um prólogo daquela cena épica que abre “O resgate do soldado Ryan”. Isto não chega a ser um problema, já que o filme é menos sobre os detalhes de uma preparação monumental e mais sobre o seu personagem principal, suas relações com Winston Churchill, Charles de Gaulle, os generais George S. Patton e Bernard Montgomery, entre outros. Assim, a película emerge como um manifesto a favor da genialidade de Eisenhower, que exalta seus adjetivos de líder dotado de perspicácia política, firmeza de comando e com senso de humanidade.

Dirigido por Robert Harmon e tendo Tom Selleck no papel de “Ike” Eisenhower, tem como pontos altos frases de efeito sobre guerra, política, mortes em massa.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

conflitos políticos e classes sociais

Salão Verde
Câmara dos Deputados
Brasília - DF



Adriano Codato

ufpr/nusp


A desfaçatez da famosa frase de Benedito Valadares a propósito do golpe militar que instituiu o Estado Novo em 1937 – “É interessante observar o ser possível fazer-se uma revolução às
claras, sem o povo desconfiar” [Tempos idos e vividos: memórias. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966, p. 174] – trai sem dúvida o caráter elitista e autocrático do processo de mudança política no Brasil.


Mas a declaração do líder político mineiro pode ser compreendida igualmente como um indício da natureza esotérica da cena política.

A cena política nunca é totalmente transparente, as disputas entre as forças sociais não são exatas, as estratégias perseguidas pelos partidos não são explícitas, as declarações dos agentes não podem ser tomadas literalmente, os interesses de grupo nunca aparecem como aquilo que são. A cena política é um espaço social que oculta mais do que revela ao observador.


Há duas maneiras de entender as conseqüências dessa última proposição.


Ou se toma a cena política como uma aparência, uma projeção falsificada de uma realidade que é anterior a ela, a justifica e explica (sua “essência”), ou se toma a cena política como uma realidade per se.

No primeiro caso, todo esforço consiste em conectar e revelar os interesses sociais ocultos pela luta entre atores, idéias, partidos e organizações políticas. Esses interesses são invariavelmente interesses "de classe".

No segundo caso, é preciso assumir que agentes, interesses e concepções inerentes a eles podem constituir-se não antes ou fora do espaço político, mas na própria cena política e atuar independentemente dos condicionamentos “de classe”.

Partindo do princípio de que é preciso evitar a confusão usual que reduz as relações de classe às relações entre partidos (confusão típica da corrente dominante da Ciência Política) e, igualmente, aquela que reduz a relação entre partidos às relações de classe (como reivindica certa “ortodoxia”) [Ver Nicos Poulantzas, Pouvoir politique et classes sociales. Paris: Maspero, 1971, vol. , p. . Poulantzas, 1977, p. 245], a cena política não precisa ser tomada sempre como um lugar de manifestação, refratada ou não, da luta de classes; mas como um espaço de lutas sociais tornadas possíveis graças à função específica de mediação das instituições políticas (cujo espaço de existência e manifestação é a cena política).

Essa maneira de compreender o jogo político – como um negócio governado por suas próprias leis e costumes e conduzido (ainda que não comandado) pelos políticos profissionais – me parece mais eficiente para revelar a natureza e o alvo da guerra política.

Assim, esse lugar ou espaço social exige, enquanto espaço social específico, uma percepção da sua organização, da sua evolução e da sua transformação concreta numa conjuntura concreta. É preciso, numa análise de conjuntura, reconstruir o que Nicos Poulantzas designou como a periodização de uma cena política.

Poulantzas insistiu na diferença pouco evidente entre cronologia histórica e periodização política.

Enquanto a primeira é tão só a disposição dos acontecimentos (os “fatos” políticos propriamente ditos) numa seqüência reconhecível ao longo de um intervalo determinado, a periodização política seria a subdivisão temporal do espaço político e a disposição, em seqüência, de diferentes regimes políticos através do tempo. Esses regimes estariam ligados à “luta partidária” na cena política, ou, simplesmente, à luta política, ela mesma condicionada pelo padrão vigente de liberdades públicas [Pouvoir politique et classes sociales. Paris: Maspero, 1971, vol. II, p. 70 e segs].

Nesse sentido, os períodos, fases e etapas de um regime (suas subdivisões) não correspondem, necessariamente, aos períodos tradicionais de governo (suas datações), nem a seu calendário oficial.

Esse princípio de classificação do jogo político, ou melhor, essa proposição teórica sobre como conceber as relações – políticas – entre os diferentes agentes sociais no campo político permite que nos livremos da tarefa, supostamente obrigatória, de reduzir a luta política à luta de classes.
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domingo, 11 de janeiro de 2009

técnica e política no Brasil

Governor Adhemar Barros and his family sharing a laugh. Foto: Dmitri Kessel, 1947. Life.


O Estado Novo em geral é associado a duas imagens: uma ditadura; um regime "técnico" (i.e., onde a técnica de governo deveria superar a politicagem dos profissionais do ofício).

Só que “competência” conta, nesse sistema político, muito menos que representatividade, junto às forças estaduais, e fidelidade política ao próprio presidente da República, o "chefe" da Nação.

Aureliano Leite refere a impressão de Getúlio Vargas sobre seu Interventor em São Paulo a partir de 1941.

Segundo o escritor, o ditador chamava Fernando Costa de “locomotiva de manobras”, já que ele se limitava a “fazer movimentos, barulho, fumaça, sem apreciáveis resultados.
(Cf. Aureliano Leite, Páginas de uma longa vida. São Paulo: Martins, 1966, p. 305, n. 13).

Ademar de Barros era outro caso onde a confiança na lealdade num ambiente de incerteza política pode superar qualquer deficiência. Na entrada de 26 de dezembro de 1938 Getúlio Vargas anota o seguinte:

"[Ademar] me fez a revelação senscional de seu comparecimento secreto a sessões epíritas, onde os seus amigos e guias, já falecidos, a ele se manifestavam, através de uma médium, para informá-lo e previni-lo de certas ocorrências [...]. Fiquei surpreso pela credulidade dele, mostrando-me pedras que recebera dos mensageiros do espaço --- pequenas pedras preciosas que ele afirmava terem se formado no espaço!".
(Getúlio Vargas: diário. São Paulo: Siciliano; Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1995, vol. II, p. 185).

Sem comentários. O ponto de exclamação de Vargas já vale por isso.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

a classe política em Israel e na Palestina

Folha de S. Paulo
2 jan. 2009

artigo
Guerra é movida puramente por causas políticas
ADRIAN HAMILTON DO "INDEPENDENT"

Ignore as acusações e contra-acusações de culpa. O bombardeio de Gaza aconteceu porque atendia aos interesses políticos das partes envolvidas.

O ministro da Defesa de Israel, Ehud Barak, o impeliu, a ministra das Relações Exteriores, Tzipi Livni, o aplaudiu, e o primeiro-ministro Ehud Olmert o sancionou porque há uma eleição programada para fevereiro, e o líder da oposição e arquifalcão Binyamin Netanyahu está na dianteira nas sondagens de intenção de voto. Barak, como líder do Partido Trabalhista, e Livni, como líder do partido governista Kadima, estão determinados a ser mais guerreiros que ele.

O timing estava certo, e as circunstâncias, também. George W. Bush, o presidente americano mais avassaladoramente pró-Israel desde o nascimento do país, ainda estará no poder pelas próximas semanas, antes da posse de um líder novo e menos resolutamente favorável a Israel, em 20 de janeiro.

Ao mesmo tempo, o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, também em final de mandato, viu nesta guerra a oportunidade de quebrar de uma vez por todas a espinha de sua oposição, o Hamas, antes de serem realizadas novas eleições. Gaza é o último e desesperado lance de xadrez de três líderes que se encaminham para a porta de saída -Bush, Olmert e Abbas.

E o que dizer do próprio Hamas? É verdade que o grupo errou em seus cálculos ao pôr fim ao cessar-fogo quando o fez e subestimar a ferocidade da resposta israelense. Ele travou um jogo de pombas e falcões com Israel, apostando sua própria população na jogada dos dados.

Mas é verdade também que o Hamas tem suas razões políticas para saudar um confronto violento com o inimigo. Quanto mais duro Israel golpeia Gaza, mais enfurecida fica a população do território e mais solidariedade é despertada nos países muçulmanos.

Pode soar como intransigência dizer que centenas de civis morreram puramente no interesse de um grupo de políticos demasiado atentos a suas ambições próprias para levar em conta as consequências. Mas essa é a verdade brutal sobre este conflito. [...]

[assinantes lêem mais aqui].