terça-feira, 17 de julho de 2007

Nepotismo tem simpatia de 63% da Assembléia Legislativa do Paraná

O jornal Gazeta do Povo tem trazido algumas pesquisas semanais (nas edições das segundas-feiras), com opiniões dos deputados estaduais paranaenses, abordando questões relevantes para a política nacional e estadual. Depois da pesquisa com os posicionamentos dos deputados sobre a reforma política (confira post no blog), as pesquisas seguintes abordam o que os parlamentares acham do nepotismo (edição de 2-07-07), e sobre os anseios de carreira que afirmam ter (09-07-07).
Conclui que a maioria dos deputados são favoráveis ao nepotismo e que um terço tem interesse em concorrer para prefeito em alguma cidade do estado.
Louvável a inicitativa do Jornal, sobretudo por tentar colocar questões para que os parlamentares se posicionem frente aos leitores do jornal. Os dados são muito interessantes. Vale a pena conferir, desde que tenham acesso de assinante.

terça-feira, 10 de julho de 2007

[Opinião] Corruptores

A execução de Zheng Xiaoyu, membro recentemente defenestrado do primeiro escalão do governo chinês, apresenta uma forma alternativa no encaminhamento dos desvios de conduta requerida aos “homens públicos”. O tema tem ganhado ampla repercussão na agenda pública, e a execução desta última terça-feira (10/07/2007) pode ser compreendida como a resposta dura de um regime forte ao problema da corrupção – do que segue, a democracia brasileira, enquanto um regime liberal, é frouxa no trato com seus desviantes.

O debate da corrupção é peculiar: ele não tem um foco claro e definido, reporta-se aos “políticos” e objetiva-os ao paredão, como o senhor Xiaoyu. Sua dinâmica tem se verificado intimamente ligada à declarações polêmicas ou desastradas de personalidades de primeiro gabarito no aparelho de Estado, além é claro, da ampla cobertura que o assunto ganha na grande mídia – particularmente os editores de opinião e/ou ensaístas.

Em tempos de caça às bruxas, qualquer deslize pode ser fatal. Aos políticos brasileiros não é facultado bater um bituca fora do cinzeiro, atravessar um sinal vermelho, ou referir-se à humanidade como “o homem”. Fraudar o erário então, nem pensar. Com o perdão do recurso à escatologia, fica a questão: Fitaria Lúcia as próprias fezes?

domingo, 8 de julho de 2007

Base aliada pede adiamento da reforma política para agosto

Agência Câmara

Os líderes dos partidos da base aliada defenderam nesta quinta-feira o adiamento da discussão da reforma política para o segundo semestre, em razão das divergências em torno da matéria. O anúncio foi feito após encontro do conselho político - que reúne os partidos aliados - no Palácio do Planalto.

Na avaliação do líder do PT, deputado Luiz Sérgio (RJ), a discussão deve recomeçar do zero, reunindo novas propostas sobre o tema. O parlamentar disse não acreditar que a atual composição do Congresso Nacional seja capaz de aprovar uma reforma política ampla, pois é proveniente do modelo que está sendo discutido. "A força individual do parlamentar prevalece sobre a coletividade do partido. É um modelo carregado de vícios", declarou.

Segundo o líder do PT, os defensores da reforma política queriam que ela fosse uma "mercedes". No final, já estavam admitindo "um fusquinha". "Acabamos com uma bicicleta velha com pneu furado - ou seja, não será possível nenhuma reforma política neste semestre", avaliou.

Votação na próxima semana
Entretanto, o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia, disse que manterá a votação da reforma política na próxima semana, apesar do anúncio dos líderes da base aliada. Chinaglia alertou que se trata de matéria em tramitação e que os líderes que quiserem encerrá-la devem se pronunciar em plenário. "Primeiro, a reforma política foi pautada [na Câmara] e determinados assuntos passaram a ser debatidos na sociedade. Segundo, nós começamos votando alterações na legislação infra-constitucional. Terceiro, ainda vamos evoluir para discutir mudanças na Constituição. Há propostas que estão tramitando há vários anos e, na minha opinião, a Câmara tem que deliberar", destacou o presidente.

O relator da reforma política, deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO), ressaltou que já apresentou uma nova emenda aglutinativa global incluindo os pontos remanescentes da proposta e corrigindo os erros regimentais que impediram a votação de ontem. "É uma correção que poderia ter sido feita até em plenário, pedindo a autorização dos deputados, para que suas emendas fossem incluídas na emenda aglutinativa. Preferiram, por um zelo maior, derrubar a emenda aglutinativa. Entretanto, 30 segundos depois, já havíamos apresentado a nova emenda aglutinativa, que agora é a de número 12", explicou Caiado.

Emenda aglutinativa
O deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP), autor da questão de ordem que suspendeu a votação da matéria ontem, declarou que o texto da nova emenda continua com os mesmos problemas. Segundo ele, a emenda aglutinativa apresenta propostas já rejeitadas no projeto original e emendas que não foram destacadas. Faria de Sá afirmou que, se a matéria voltar à pauta, apresentará recurso para suspender a votação novamente.

Dia 05/07/2007 17h09
Reportagem - Geórgia Moraes/Rádio Câmara
Edição - Renata Tôrres

segunda-feira, 2 de julho de 2007

[Link] Cientistas políticos avaliam desenrolar da reforma política na CD

Os cientistas políticos Jairo Nicolau (IUPERJ) e Lúcio Rennó (UnB) avaliam o desenrolar e quais os pontos da reforma política com mais chances de serem aprovados, em reportagem especial do portal da Câmara dos Deputados. Também há avaliações sobre os pontos não aprovados e sobre a capacidade da reforma acabar com a corrupção eleitoral (o caixa dois). Confira aqui.

Seção semanal de debates - Contraponto

O blog de Análise de Conjuntura irá iniciar uma seção semanal destinada ao debate de temas e questões presentes na agenda política - a seção CONTRAPONTO. Trata-se de contrastar argumentos e pontos de vista sobre um tema em comum, mediante duas opiniões divergentes expostas em forma de artigo. Algo muito parecido com a seção diária "Tendência e debates" da Folha de São Paulo. Dificilmente iremos discutir a atuação deste ou daquele parlamentar de forma isolada, ou mesmo problematizar questões consensuais (como a "corrupção", ou a "ética"). A inclinação deve ser o debate em torno atores coletivos (os partidos, o legislativo), cenários políticos, mudanças, crises e assim por diante. Enfim, artigos opinativos mas que não se furtem de ter uma consistência analítica.
Para começar, dois textos sobre a reforma política, um que enfatiza as vantagens em relação ao modelo atual e outro que as questiona. Os leitores interessados podem contribuir com comentários.

[Contraponto] Problemas dos modelos eleitorais de voto distrital e lista fechada

Por Robert Bonifácio da Silva

Está em voga na sociedade, em discussão e em votação no Congresso Nacional a reforma política. Sobre o tema há muita polêmica e controvérsias sobre alguns pontos-chaves, como voto distrital, representação eleitoral e lista fechada. De consenso, me parece somente a necessidade de se criar um mecanismo que incentive a fidelidade partidária, que vise acabar com o famoso "troca-troca" entre partidos por parte do representante eleito.

Busca-se no momento alterar a forma como nossos representantes seriam eleitos, o que concordo plenamente. No entanto, penso que algumas opções lançadas não sejam benéficas para o nosso sistema eleitoral. Estou me referindo aos mecanismos de lista fechada e de voto distrital.

Voto distrital

Almeja-se "dividir" o país em distritos eleitorais e, a partir desses distritos, eleger os representantes. A argumentação favorável a esse sistema ancora-se na idéia de que este resultaria em uma maior aproximação entre eleitor e o político, uma vez que só se poderia votar naqueles candidatos de seu distrito (circunscrição mais reduzida) e não de seu estado (maior e mais espalhado), como é o modelo atual.

Duas limitações dessa alternativa me levam a ser contrário a ela: a primeira seria a logística, de como se dividir de modo racional e eqüitativo (no sentido de equilíbrio de número de votantes e representantes eleitos) distritos eleitorais de um pais de dimensões continentais como o Brasil. Um outro ponto se refere à natureza de representação que esse modelo criaria. Ter a opção de votar em alguns poucos candidatos de seu distrito "aprisiona" o eleitor a líderes locais, diminuindo o espectro de suas escolhas, o que a meu ver não é benéfico. Outro ponto (o mais crítico) se refere à inversão de lógica que esse modelo criaria. Ao se votar num deputado federal, dever-se-ia votar em alguém que o eleitor imagina que seja benéfico para a nação, que discuta temas e interesses da nação. A adoção do voto distrital inverte essa lógica, pois a base de análise seria a sua região, o eleitor estaria elegendo alguém que "brigue" por sua região, que discuta e aja em favor de interesses locais. A discussão de temas nacionais num sistema eleitoral de voto distrital, a meu ver, levaria necessariamente a uma regionalização ainda mais aprofundada da política brasileira.

Lista fechada

Outra alternativa que se põe é a adoção de listas fechadas de deputados. O eleitor votaria num partido e não num deputado para as eleições proporcionais, diminuindo a interação entre o político e o eleitor, diminuindo assim o personalismo na política. Sem dúvida, esse seria um provável efeito positivo da adoção da lista fechada, mas pena não ser o único. Com esse sistema, um outro efeito seria o maior fortalecimento das oligarquias partidárias, que hierarquizariam a ordem dos candidatos da lista. A meu ver, isso diminui a capacidade do eleitor de escolher um político que se posiciona da maneira que ele acha mais conveniente (pois nada garante que este político estar no topo da lista e que o numero de votos do partido consiga faze-lo ser eleito) e impede (ou pelo menos dificulta) a ascensão de novos lideres.

Um ponto que acredito que merece ser alterado é o relativo ao modo de distribuição de vagas legislativas. No modelo atual, pode-se ter coligações para eleições proporcionais. Caso uma coligação receba 20% dos votos totais, terá direito a 20% das cadeiras legislativas. A partilha das vagas não se dá pelo peso que cada partido teve no total de votos, mas pelo numero de votos que cada candidato obteve. Isso estimula a existência de partidos de aluguel, formados para eleger pessoas que muitas vezes não se destacam pelas suas propostas e idéias, mas sim por seu tipo bizarro ou pelo poderio financeiro, utilizado para canalizar votos. O fim das coligações serviria para ajudar a eliminar da política esses tipos de partidos e políticos que em nada ajudam a promover um debate político qualificado e benéfico a nação

A reforma política é necessária, mas é há que se ponderar que tipo de reforma queremos. As alternativas de lista fecha da e voto distrital, quando não esbarram em problemas técnicos/logísticos, não se mostram capazes de alterar o ranço personalista da política brasileira.

Robert Bonifacio da Silva é mestrando em ciência política pela Unicamp.