quarta-feira, 1 de julho de 2009

O vácuo institucional e o autoritarismo

[Honduras- Banana Strike And Us Arms To Honduras. 1954. Ralph Morse. Life]



Honduras costumava ser tida como uma democracia consolidade pelos analistas políticos, 25 anos de eleições livres. Esta afirmação não está solta, mas ancorada numa literatura que avalia democracias apenas por seus procedimentos e instituições.

Por outro lado, mas na mesma linha de raciocínio, existe um consenso em boa parte da teoria política que na América Latina acabou-se o espaço para golpes de Estado militarescos. Como podemos ver, tal consenso acaba de ser derrubado pelas instituições castristas de Honduras.

Diante disso, remontemos o arranjo político que estava vigente em Honduras da queda do presidente Zelaya. O presidente (ex ou autal, ainda não sabemos) é um grande empresário agropecuário e membro do Partido Liberal. Porém, no decorrer de seu mandato o presidente regeu uma aproximação com o chavismo. A assinatura do acordo com a ALBA (Alternativa Bolivariana para as Américas), além de ser uma provocação política aos EUA, é também matéria de descontentamento por boa parte da elite política hondurenha, entre eles, o presidente do legislativo, do mesmo partido de Zelaya, e que assumiu o país após o golpe, Roberto Micheletti.

Ora, o que vemos não foi somente uma quartelada em Honduras, mas o arranjo de um golpe militar, aliado à forças civis. Tais "forças" eram nada menos do que o Poder Legislativo, Ministério Público e Poder Judiciário, que "evocaram" às Forças Armadas à manutenção da ordem diante de um passo adiante no chamdo neochavismo.

Da mesmo forma com que eleições regulares não garantem segurança democrática plena, é preciso mais do que isso, o arranjo institucional que Zalaya tentou modificar a seu favor criou um vácuo de legitimidade na eleição do mesmo, e consequentemente um descontentamento das elites políticas, que não se eximiram em utilizar o poder constitucional para apresentar uma posição política que agradasse ao exército e realizar o golpe.

As declarações de todas as nações da ONU referendam uma posição democrática mínima, ligada a procedimentos que não garantem o bom funcionamento da democracia. Se por um lado a ONU tenta preservar um procedimento democrático mínimo no mundo todo, por outro não avalia a fragilidade e o vácuo institucional deixado pelo presidente Zelaya em Honduras.

2 comentários:

Celso Roma disse...

Houve um conflito entre os Poderes da República: o Executivo, de um lado, e, de outro, o Legislativo e o Judiciário. A celeuma poderia ser evitada pelos próprios mecanismos institucionais. A alternativa legal seria o impedimento do presidente, por meio de um processo tramitado no Congresso e referendado pelo Tribunal Superior. Por que não o fizeram?

Bruno Bolognesi disse...

Celso, essa pergunta é excelente. A resposta, acredito, é que o golpe veio como um acordo entre poderes judiciário e legislativo e as forças armadas. Não acredito que o exército de lá, assim como cá, tenha uma opção política clara sobre o funcionamento da democracia. Daí o vácuo institucional entre procedimentos e práticas.