segunda-feira, 29 de junho de 2009

Eleições na Argentina - parte 1


[Eva Perón, 1949. Paso de los Libres,
Argentina.
José Medeiros.
col. Pirelli / MASP]



Camila Tribess*

Cerca de 30 milhões de pessoas vão hoje (domingo, 28 de junho) às urnas na Argentina para renovar metade da Câmara e 1/3 do senado. Essas eleições, que seriam só no final de outubro, foram adiantadas por uma série de motivos, a principal delas, a dificuldade que o governo Kirchner vem enfrentando após o conflito com o campo. O conflito agrário, iniciado em março do ano passado se estendeu até fins de setembro e terminou com votação tensa e dividida no Congresso. O conflito começou por uma medida do governo que tentava aumentar gradualmente os impostos sobre a produção agrária, principalmente a de exportação, como soja e carne. Esse imposto seria mais rigoroso para os exportadores, mas também aumentaria a carga tributária de grandes e médias produtores rurais que produzem para o consumo interno do país. Esse imposto, segundo as organizações agrárias, aumentaria os preços dos alimentos em toda a Argentina. Quem, por fim, decidiu de fato a questão foi o voto de minerva de Cobos, vice-presidente do país e presidente do senado, que votou contra a lei do governo, garantindo sua popularidade, por um lado e, ajudando a implodir medidas de reforma tributária do governo, por outro.

Depois desse conflito (com rodovias fechadas por “piquetes” de fazendeiros com suas pick ups 4x4, mas também com a ajuda dos pequenos e médios agricultores), com grande repercussão na mídia e na população, o governo Kirchner perdeu muito de sua popularidade. A direita do país se fortaleceu na organização rural, principalmente na província de Santa Fé (3ª maior do país) e em províncias rurais de grande importância política e econômica. Em compensação, a esquerda perdeu muito de seus argumentos e até aqueles que eram, em certa medida, uma oposição à esquerda do governo peronista atual, se calou, por medo de fortalecer ainda mais a direita agrária. As dissidências do Partido Justicialista (no governo) cresceram ainda mais de setembro pra cá e quase nenhum projeto do governo está sendo aprovado no congresso.

A tática Kirchner de adiantar as eleições foi arriscada, mas talvez a única possível. Nestor Kirchner, o ex-presidente, é candidato favorito pela província de Buenos Aires (que não inclui a cidade de Buenos Aires), encabeçando a lista governista, que disputa ponto a ponto com outra lista do mesmo partido, a dos peronistas dissidentes. Nestor encabeça a lista, mas não pretende assumir nenhuma cadeira no congresso, está usando um dos recursos que a constituição argentina permite, colocando seu nome na cabeça da lista para angariar mais votos. Se a tática funcionar, o governo Kirchner garante sua governabilidade por mais 2 anos e, provavelmente, sua reeleição. Entretanto, se o kirchnerismo perder a maioria no congresso, o risco é de 2 anos de um governo engessado e imóvel.

*Camila Tribess é pesquisadora do Núcleo de Pesquisa em Sociologia Política Brasileira (NUSP-UFPR)

2 comentários:

Tamer disse...

estou esperando a hora de acontecer isso pelo Brasil, sem forem fazer piquetes no senado, impedindo a entrada de políticos como Tio Sarney, me chamem.

Camila disse...

De fato, isso é um tema polêmico, mas a participação política na Argentina é muito maior que no Brasil, com certeza!