sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Ensinamentos de 2008

André Ziegmann
1º) Os mercados não se auto regulam. Não devemos, contudo, satanizar os arautos do livre mercado, nem seu principal ideólogo, Milton Friedman. Pois seria o mesmo oportunismo daqueles que execraram todas as esquerdas, Marx e Keynes e qualquer tipo de regulação ou intervenção estatal. Mas a hora é de por neoliberalismo na geladeira.

2º) Presidente popular não transfere voto para candidato a prefeito. Ficou provado, o eleitor segue a dinâmica eleitoral. Convidado a discutir os problemas do município, o eleitor tendeu a reconduzir prefeitos bem avaliados ou a eleger candidatos à sucessão de gestores bem vistos pela população.

3º) Mas se o eleitor vota em governantes bem avaliados ou candidatos de governantes bem avaliados, o que fará quando tiver de debater o atual governo federal, dono de grande aprovação e com gordura de sobra para queimar diante da crise. Isso passou despercebido, deliberadamente ou não, pela grande imprensa nacional.

4º) O desempenho de Aécio não é ruim! Segundo a corretíssima avaliação do deputado Rodrigo de Castro, PSDB-MG, os principais concorrentes, Serra, Ciro e Heloísa Helena, já participaram de campanhas nacionais, levando seus nomes à grande exposição em todo território brasileiro. Dilma é ligada ao presidente Lula, e sua exposição, por razões de ofício, é em escala federal. Aécio tem bom desempenho, sem ter tido nenhuma das oportunidades citadas acima.

5º) Quarenta anos depois do AI-5, completamos duas décadas de regime constitucional democrático ininterrupto. Recorde em nossa autoritária história. De sobra, 2008 foi o ano em que se consolidaram as chances de termos a primeira mulher eleita para a presidência da República. Mulher que foi, nos seus próprios dizeres, barbaramente torturada, graças à anomalia constitucional imposta pelo AI-5. As coisas mudam.

6º) O PSDB precisa rever algumas de suas idéias. O neoliberalismo, defendido e praticado em todos os seus governos, está em crise, e não parece ser a melhor resposta para os nossos desafios de desenvolvimento. Entretanto, ao escutar algumas declarações de líderes tucanos, defendendo corte de gastos em meio a óbvia necessidade de aumentar os investimentos públicos, parece pouco provável uma reforma nas idéias do partido.

7º) Fiquei muito feliz com Obama. Pela mudança, pela luta dos negros, enfim, pelo simbolismo de sua vitória. Mas, o mais importante não é como você entra, mas sim como você sai de um governo.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Teoria e método na análise de conjuntura


Sebastião Velasco e Cruz (Unicamp)

"Teoria e método na análise de conjuntura: 50 minutos para dissertar sobre o tema".

Simples, não? Afinal de contas, análise de conjuntura é o que fazem cotidianamente políticos, articulistas e cidadãos informados, como exigência incontornável de suas atividades profissionais, ou - no caso destes últimos - como parte do processo de formação de juízos sobre ocorrências, proposições e/ou indivíduos, que não se reduzam a meras projeções da subjetividade de quem os expressa. Ler jornais, cultivar o saber sobre instituições e usos no país, acompanhar com relativa atenção os movimentos de algumas personalidades públicas... nada muito complicado. Em caso de dificuldade, podemos sempre buscar a receita em um manual de Ciência Política. Certo?

Errado. Pensar assim é desconhecer a enorme distância que medeia entre o exercício de uma prática e a capacidade de explicitá-la, de enunciar os seus princípios subjacentes, esclarecê-la em seu alcance, suas implicações e seus pressupostos. Lembro-me de Michael Polany e da noção de conhecimento tácito que ele explora no livro Personal Knowledge. Lembro-me também de Durkheim e do momento segundo que representou em sua obra a elaboração de As Regras do Método Sociológico, fruto de reflexão sobre os supostos de uma atividade prévia de pesquisa da qual A Divisão do Trabalho Social constitui a realização maior e mais ambiciosa.

Naturalmente, em relação à análise de conjuntura, não disponho de nada remotamente parecido com as Regras do gigante Durkheim. E nem deveria ser preciso. O que se pede é a demonstração de domínio da teoria e da metodologia pertinente a essa área de problemas. Mas é precisamente aí que a dificuldade se ergue, quase intransponível: embora largamente praticada, a análise de conjuntura não se configura como um subcampo diferenciado e claramente reconhecido na Ciência Política, ou em sua prima, a Sociologia.

Referência: CRUZ, Sebastião C. Velasco e. Teoria e método na análise de conjuntura. Educ. Soc. 2000, vol. 21, no. 72, pp. 145-152

clique aqui para ler o artigo completo.
indispensável.
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Comparações (des)necessárias

Capa da edição 2091 da Revista Veja, de 17 dez. 2008:




Capa da edição 526 da Revista CartaCapital, de 17 de dez. 2008:




Conjuntura política da semana (14 a 19 de dezembro de 2008): AI-5 completa 40 anos; crise na economia; final de ano de atividades parlamentares; pesquisas de opinião sobre a ditadura militar, sobre o aborto, sobre a pena de morte; relatórios sobre os direitos humanos no Brasil... Há muito material útil para explorar.

O fato mais importante do momento, sem dúvida, é o aniversário de 40 anos do AI-5.
Pesquisa Datafolha identifica que 82% dos brasileiros não conhecem o Ato que instaurou a maior força repressora do país. Não caberia à Veja, nem tampouco à Globo, contribuir para a memória da população e fazer jornalismo sério depois de estarem há 40 anos (pelo menos a Veja) do lado negro da força.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Fechem Wall Street e mandem os especuladores criar gado

A economia brasileira ficou 30 anos estagnada. Desde o milagre econômico comemos o pão que o diabo amassou em termos de matéria econômica, e, por extensão, social. O milagre dos militares se tornou um calvário, com duas moratórias da dívida externa nos anos 80. Os sonhos da redemocratização vieram acompanhados da dura realidade cotidiana da hiperinflação, que causou uma hecatombe distributiva. As esperanças depositadas no sociólogo FHC, democrata moderno que no governo Itamar acabou com o pesadelo inflacionário, se dissiparam com a explosão da dívida externa e o aumento criminoso da taxa de juros e da carga tributária. Em suma, uma geração inteira de brasileiros foi privada da bonança social que só uma economia em crescimento pode gerar. Em 2007 e 2008 parecíamos iniciar um novo ciclo de desenvolvimento, que, conjugado com uma democracia estável, faria o Brasil viver uma combinação que há 50 anos não experimentava, desde os anos JK (os governos Quadros e Goulart não foram nenhum pouco estáveis). Digo isso porque o IBGE anunciou uma expansão 6,3% do PIB nos últimos 12 meses, é a maior desde 1996, quando o instituto começou a fazer a pesquisa em período trimestral (o aumento em relação ao terceiro trimestre do ano passado foi de 6,8%). Os números são excelentes, mas tudo indica que não continuarão no ano que vem. Fechem Wall Street, e mandem os especuladores criar gado no Texas, pois assim contribuirão mais para a economia.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

PT O Resgate

Algumas tentativas têm sido feitas de um resgate do Partido dos Trabalhadores, ora contra, ora a favor do Governo. No evento máximo do partido uma carta foi enviada a Comissão Executiva do evento manifestando pontos importantes e históricos do PT. O movimento iniciado em 2007, chamado Mensagem ao Partido, encabeçado pelo Ministro Tarso Genro e pelo atual secretário geral do PT, Luiz Eduardo Cardozo, visa um retorno aos princípios do PT, com a retomada de palavras como ‘socialismo’ e ‘revolução’.

A proposta da Mensagem foi apresentada e aprovada no III Congresso Nacional do Partido dos Trabalhadores. Nesse documento são citadas as transformações que o governo Lula realizou e a sua necessidade de aprofundamento. Ou seja, ao mesmo tempo em que essa nova ‘linha’ (para não chamar ainda de “tendência”) serve de base ao presidente Lula, ela busca retomar o diálogo com a militância histórica da agremiação, vislumbrando a revolução democrática como um passo para o socialismo.

São palavras, palavras e mais palavras colocadas no papel. Mas o que tem sido feito para a tal passagem para o socialismo? Ao primeiro olhar sob o comportamento dos ‘cabeças’ da Mensagem, parece que pouco, mas muito mais do que a coalizão dominante do partido. Os senhores donos desta nova proposta estão, a meu ver, interessados na sobrevivência da organização e na estabilidade institucional do partido a que pertencem.

Não é possível dizer se o caminho é reto ou correto, mas parece que o PT ainda mantém um quê de frescor ideológico, uma ligação com a base do partido, que antes danificada, tenta-se retomar. Diferente dos caminhos usuais dos partidos brasileiros, a legenda da estrela parece permanecer ainda com uma estratégia inovadora.

Para saber mais sobre acessar: www.mensagemaopartido.com.br

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Folclore tributário: a Carta de Puebla revisitada.

Por Guatimozin Filho.


O legislativo paranaense anda pegando fogo, apesar da pequena divulgação por parte da imprensa. Final de ano, época de votar o orçamento para 2009 e o famoso "pacotão" de projetos antes do recesso. Um dos principais itens em pauta e que vem gerando intensa discussão entre oposição e governo é a proposta da Mini Reforma Tributária no Paraná. O projeto, elaborado pelo executivo, vem com o intuito de colocar em prática a essência do discurso de posse do governador Roberto Requião e o da já folclórica Carta de Puebla: a opção preferencial pelos pobres. A idéia da proposição é alterar a alíquota do ICMS uma série de bens de consumo no estado do Paraná, através da diminuição em 6% no imposto para mais de 95 mil itens, que, segundo o governador, representam insumos de primeira necessidade na vida do cidadão paranaense. Em contrapartida, a proposta traz o aumento de 2% para setores como combustíveis, energia elétrica, bebidas alcoólicas e fumo.

Segundo a Secretaria de Estado da Fazenda, existirá, caso a proposta seja aprovada, um déficit de aproximadamente 74 milhões nos cofres públicos, que deverão ser compensados através de outros ajustes para que o Estado não seja penalizado pela Lei de Responsabilidade Fiscal. A lei prevê a necessidade de equilíbrio em qualquer tipo de alteração nos dispositivos de arrecadação tributária.

O principal argumento da oposição é o de que se as contas apresentadas pelo estado são, de fato, verdadeiras. Se todo esse movimento não é apenas mais uma manobra para aumentar a já elevada arrecadação do Estado.

O projeto provavelmente será aprovado em plenário sem maiores problemas, dada a expressiva representatividade da bancada da situação. Porém, esta será a hora em que a coesão do "Velho MDB de guerra" na arena decisória será colocada em xeque, assim como a força de Roberto Requião, que, além de colecionar desafetos como coleciona armas, vem cultivando, diretamente de sua horta no Cangüiri, índices astronômicos de rejeição.

E mais ativos que nossos eminentes parlamentares nessa briga, estão, de um lado, os supermercadistas, principais beneficiados pela proposta, e do outro, a indústria tabagista e cervejeira, os principais prejudicados. Quem sairá ganhando? Descobriremos quando as emendas e o texto final forem aprovados.

E o povo, onde fica nesse debate? Pelo jeito, só no discurso.

I Workshop do Núcleo de Pesquisa em Sociologia Política Brasileira – NUSP/UFPR

9 e 10 de dezembro de 2008
no ANF 900
do prédio Dom Pedro I, da UFPR

[clique aqui para o programa completo
com os horários detalhados]
[os papers podem ser baixados aqui]






INSCRIÇÕES
08/dez/08 (segunda-feira)
NUSP - Sala 904, 9º andar,
prédio Dom Pedro I -
Reitoria UFPR OU
pelo telefone 41 3360 5320
das 14:00 às 18:00 horas.
R$ 2,00
emissão de para certificados
para 90% de presença

PALESTRAS
As armadilhas da Teoria das Elites - Sérgio Braga (UFPR)
Gestão municipal e eleições: uma perspectiva antropológica - Carolina Kaiss (PPGAS/UFPR)
A sociologia política e a história: por uma nova agenda de pesquisas - Adriano Codato (Coordenador NUSP/UFPR)


COMUNICAÇÕES
Valores, socialização e comportamento: sugestões para uma sociologia da elite judiciária - Pedro Medeiros (NUSP/UFPR) e Rafael Wowk (NUSP/UFPR)

A elite empresarial paranaense: um estudo de trajetória, origem social e valores políticos, 1995-2005 - Ícaro Gabriel da Fonseca Engler (NUSP/UFPR)

Perfil sociopolítico de uma elite: um estudo comparativo das elites político-administrativas entre os governos FHC e Lula - Julio Cesar Gouvêa (NUSP/Unicamp)

Caminhos para o Parlamento: partidos e recrutamento político nas eleições de 2006 - Angel Miríade de Souza (NUSP/UFPR)

Alcançando o Senado: recrutamento para a Câmara Alta brasileira (1997-2007) - Luiz Domingos Costa (NUSP/Unicamp)

Elites universitárias do campo da Ciência Política no Brasil após o período da redemocratização política - Fernando Batista Leite (PPGS-UFPR)

O recrutamento da elite nas eleições para o legislativo em 2006 - Bruno Bolognesi (NUSP/PPGS - UFPR)

Entrando em Cena: mulheres e elite política nas eleições de 2006 - Rossana Freitas (NUSP/UFPR)

Top Intelectual

O Foreign Policy, portal dedicado a temas atuais como economia e política, lançou recentemente uma lista com os Top100 intelectuais notórios. Não é preciso dizer que a Europa e os EUA dominam quase toda a lista. Com algumas exceções de Uganda, Irã ou Somália, é fácil perceber que os países que detém do domínio econômico e investimento pesado em pesquisa científica, são os que ostentam maior número de intelectuais no topo.

Para o Brasil, FHC segurou o décimo lugar, deixando nada menos do que Noam Chomsky para trás. Isso com certeza está associado ao posto presidencial que ele ocupou somada a sua produção intelectual, o que deu muita notoriedade ao ex-chefe do executivo brasileiro. O mesmo pode-se dizer de outros intelectuais da lista, como o líder oposicionista paquistanês Aitzaz Ahsan, que pouco sabemos sobre sua produção intelectual, mas sabemos do potencial do país que o mesmo vive e da posição estratégica desta nação.

A lista completa pode ser encontrada em: Foreign Policy