quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Convenção democrata e o mesmo de sempre nas olímpiadas

O Espetáculo já começou. A convenção nacional do partido democrata está ocorrendo essa semana em Denver, no Colorado. A festa está sendo realizada num ginásio ultra moderno, chamado pepsi center (nada mais americano) que fica entupido, por repórteres, personalidades, políticos e principalmente delegados. São aproximadamente 4000, vindos de todo país. Não raro as câmeras acham alguma personalidade do mundo artístico. Por falar em arte, arte mesmo é cobertura do evento. Primeiro, que as grandes redes de televisão, como FOX e CNN, montam estandes enormes dentro do ginásio. Segundo, eles transmitem por horas a fio a convenção, mostrando os principais discursos e conversando com delegados, através dos repórteres que se espalham pelo evento. Terceiro, eles bombardeiam a audiência com estatísticas sobre a história das convenções, no caso as do partido democrata. Por exemplo, ontem era possível saber quantos minutos Bill Clinton falou em cada um dos discursos que proferiu nas quatro convenções em que subiu ao palco (lá está mais para palco do que para palanque). Em 1996, quando foi indicado para disputar a reeleição, o ex-presidente falou 66 minutos. Quarto, a transmissão é acompanhada por um time de analistas, mais ou menos como fazemos em relação aos eventos futebolísticos no Brasil. Nem de longe a transmissão das eleições no Brasil se equiparam a esse “choque e espanto” feito pela mídia americana. No domingo eleitoral, acompanhamos analistas na televisão, mas eles discutem os rumos do brasileirão. Cobertura de prévias, convenções entre outros institutos típicos da vida partidárias, nem pensar, o negócio é transmitir a novela, seja qual for o horário. Tudo bem, entre a personagem Raquele da novela das oito e os políticos esteticamente incompreendidos, fico com a primeira, mas convenções e prévias não ocorrem todo dia, aliás não acontecem todo ano. No mais hoje à noite Barack Obama discursará na convenção. Nos próximos dias os republicanos fazem o seu show. O que fica desses eventos são duas coisas. Primeiro precisamos dar mais atenção à vida interna dos partidos, e nesse caso não é só a mídia. Segundo, vendo tamanha participação da base, desde as prévias até as convenções, e pensativo desde uma conversa que tive com um colega, fico em dúvida se só os partidos social-democratas devem ser encarados como o tipo ideal de organização partidária.

Olimpíadas

Não há o que falar num país onde não existe política poliesportiva.

4 comentários:

Lucas Castro disse...

Excelentes destaques André.

É de fato, assombrossa a adesão das massas à discussão eleitoral e a atenção da população despendida com o pleito. Também pudera, a eleição dos governantes de um país é o evento cívico mais importante das democracias contemporâneas. Ou deveria ser.
Abraços.

Bruno Bolognesi disse...

Grande André,
É um espetáculo, mas existem consequências e nem sempre positivas.
Primeiro que a alta participação torna o partido como algo amorfo, sem identidade e com tantas facções quanto opiniões diversas sobre temas centrais.
Dois: a intensa midiatização acaba por minar o partido como instância de identidade e de coesão entre seus membros, visto que você aqui no Brasil pode demonstrar preferência por este ou aquele partido sem nunca ter estado em Denver.
Terceiro, as prévias e as convenções deixam a política mais personalista, colocando como centro do espetáculo o candidato e não o partido.
Por último, com grandes participações acabam as lealdade referentes ao partido ou aos "selecionadores", visto que o candidato não sabe exatamente a quem se remeter (isso ocorre principalmente no caso dos cargos legislativos).
Fazendo uma média, acredito que seria mais interessante um modelo de cobertura e de sistema político onde as coisas não pendessem para o novelístico Brasil e ao mesmo tempo nem tão perto do hollywoodiano USA.

Talvez a ciência política em geral não tenha lido com atenção Durkheim, e acaba por levando suas teses muito próximas de suas aspirações pessoais e políticas.

Abraço,

BB

Anônimo disse...

Caro André, se metade dos Brasileiros tivessem a metada da mentalidade politica dos Americanos, muita coisa seria diferente. As convessões americanas são uma festa mesmo! E tem que ser! Afinal, é a celebração da democracia... Ali se conhecerá o representante de seu partido ao mais alto posto. Bem diferente daqui, em que maioria dos eleitores estão preocupados em saber quanto o candidato X vai pagar de boca de urna, ou se a novela Favorita já co,eçou. Um abraço e boa semana.

http://so-pensando.blogspot.com

Luiz Domingos disse...

Só lembrando que, embora o número de delegados seja 4 mil, o número de presentes no discurso oficial de Obama somava 80 mil pessoas!
Algo como uma final de libertadores no Maracanã para agitar uma campanha presidencial... Não se trata apenas de uma personificação das eleições e etc e tal... Trata-se, em primeiro lugar, de destacar isso levantado pelo André: se a televisão transmite, é porque tem uma audiência e um apelo significativo. Isto, por si, já é um sinal de que a democracia lá toca de outra forma e, ainda mais interessante é perceber o discurso : da mesma forma que apela para noções vagas como "mudança", também se obriga a tocar em pontos políticos fundamentais, tais como alternativas ao petróleo, saída das tropas do Iraque e assim por diante. Seguindo a risca o manual Downsiano de ideologia: tem que atacar os nichos eleitorais potencialmente sem candidatos... Será uma campanha histórica e o show está apenas começando...