quarta-feira, 19 de março de 2008

Mais uma do porão teatralesco

Ontem na Comissão de Educação atores globais e diretores de teatro pospuseram a criação de uma pasta específica para a captação de recursos para o "setor" (cfe. matéria na FSP de 19mar08, clique aqui para ver).

Até onde vai o meu raso conhecimento o teatro não é uma atividade, nem um assunto estratégico que mereça uma secretaria especial (e com caráter de ministério). Para lém disso os artistas já são presenteados com a Lei Rouanet (mote de artigo neste mesmo blog em 02ago2007) e pelo dinheiro -suado e miado - de quem paga uma alta quantia para assistir ás peças teatrais.

Em Curitiba começa hoje o "Festival de Curitiba" - não mais de "teatro", pois contempla outros espetáculos como circo e dança - patrocinado por empresas privadas e dinheiro público, qual seja, meu dinehiro também está lá. Serão 10 dias de encenações e apresentações que vão de peças infantis á comédias adultas. Cada ingresso custa em média 20 reais, meia para estudantes e alguns benefícios para clientes do banco que patrocina a peça. Se eu apresentar meu carnê de IPTU eu ganho desconto na entrada? Visto que sou trabalhador e não mais estudante?

Não é só a classe política que tem suas atividades desvinculadas ás atividades ordinárias dos cidadãos. A classe artística apresenta o mesmo comportamento. Porpõe para si e em si benefícios que estão distanciados diametralmente aos benefícios que outras classes muito mais importantes desfrutam. E para completar, estão pleiteando uma atividade estritamente política e estratégica a seu favor.

De novo os atores, atrizes, diretores e todo o resto envolvido nisso usa dinheiro público, fatura com os espetáculos e os únicos que assistem ás encenações são os ricos. Poucos são os programas que levam este lado da cultura para os lugares mais pobres, e, além do mais, pobre está mais preocupado em comer e vestir do que ver a Letícia Sabatella num monólogo sobre a reflexividade do ser humano diante dos grilhões infâmes da sociedade burguesa.

2 comentários:

Lucas Massimo disse...

Bruno

Gostaria de polemizar com o conteúdo de sua postagem. Trata-se, a meu ver, de uma apreciação um pouco apressada acerca da produção teatral em si, e, o que parece ser mais complicado, sua postura revela certa implicância que coloca em pauta a nossa própria condição de analistas de conjuntura. Explico-me: na observação cotidiana da conjuntura política valemo-nos de instrumentos e ferramentas forjados nos cânones do conhecimento científico. A perspectiva que informa-nos, portanto, deve estar amparada em um conjunto de saberes cuja produção é absolutamente indiferente à vida dos contribuintes. Por esse motivo, um dos fundamentos da ciência moderna é a autonomia universitária, do que segue que a avaliação do mérito e definição do que é pertinente em matéria de ciência, são atividades exercidas por cientistas, segundo critérios definidos pela ciência moderna. As disputas por posições privilegiadas nesse universo não levam em conta a fome do povo; ora, porque a atividade artística teria de ser diferente?

Conquanto que o teatro, o cinema, a literatura, e porque não, a filosofia, não sejam considerados como atividade de recreação e lazer da polis, seu exercício deve ser regulado por regras especificas a cada campo. Sugerir que os diferentes níveis da organização política devam se abster do financiamento e da regulação da produção cultural, a meu ver, é equivalente a confundir a função do Ministério de Ciência e Tecnologia com a do Ministério dos Esportes, já que, e acho que aqui não há dissenso, o Brasil é o pais do futebol.

Resumindo: a corrupção e o mau uso do recurso público não decorrem da existência da atividade artística, mas pelo contrario, são um efeito da falta de instrumentos para sua regulação, segundo os seus próprios critérios.

Um abraço
LM

Bruno Bolognesi disse...

Lucas,

Você tem razão em diversos pontos. Porém não acho que a ciência, a filosofia ou outras produções adjacentes devam estar desvinculadas da vida cotidiana. Neste ponto concordo com Durkheim, a ciência deve servir sim para intervir na realidade.

A posição de "intelectual de gabinete" me deixa um pouco incomodado por dois motivos: a inércia e a impossibilidade de "intervir" na realidade de fato. E eu, particularmente, não sou das pessoais mais ativas politicamente.

Sim, eu tenho certa implicância com o teatro e com toda a classe artística. E não ouso fazer nenhum paralelo entre a ciência e o teatro, ou qualquer outra atividade de cunho puramente subjetivo e apaixonado. Mas a lógica de autonomia dos campos não pode ser aplicada à risca, a auto-regulação dos mesmos não tem sido um caminho promissor. É preciso sim que o mérito seja avaliado dentro e fora do campo em questão.

Da mesma forma acredito na autonomia da ciência e da regulação do campo pelos pares. Porém prioridades devem ter sua parcela de relevância. Não é aceitável (não como pesquisador, mas como contribuinte) que se destine dinheiro público para atividades lúdicas, quando temos outras que carecem de mais e melhor investimento.

Mais uma vez, a autonomia das regulações e das atribuições de cada organização política, como você citou, deveria, em minha opinião, estar subjulgada a questões mais amplas e que tivessem decisões mais fundamentadas e menos pedestres.

O seu último parágrafo é o resumo de tudo. Concordo em gênero número e grau. Mas não podemos pois presumir que toda atividade desmedida é fruto da má adminstração pública. Não me parece possível que qualquer grupo de interesse não tenha consciência de suas reinvidicações para a vida prática e para a realidade brasileira.

Espero ter esclarecido alguma coisa.

No mais, em pesquisa de opinião recente foi revelado que ingleses e argentinos gostam muito mais de futebol do que os brasileiros.