PMDB bom é PMDB dividido
[Hands of Samuel Dash (R)
as he speaks during break in Watergate hearings.
Foto: Gjon Mili. Washington, DC. 1973]
Luiz Domingos Costa
Jarbas Vasconcelos foi o pivô de uma polêmica semanal. Entrevistado da semana nas páginas amarelas da Revista Veja, o senador por Pernambuco destilou seu veneno contra o partido ao qual é filiado a mais de quatro décadas, o PMDB. Logo que chegou às bancas, jornalistas e políticos pareciam estar diante de um fato e tanto. Antes da próxima edição da Revista sair, entretanto, tudo parece calmo.
Mirando o PMDB e a classe política brasileira em geral, disparou contra o governo Lula, a candidata Dilma e deixou de fora apenas a si mesmo e alguns poucos correligionários, dentre os quais José Serra e o PMDB paulista. Há que diga que foi um desabafo. Outros ignoraram por ser a mais pura repetição de um conhecimento generalizado – a de que o PMDB é fisiologista e corrupto. Outros demonstraram a uma indignação dissimulada. Independente do que se ache, o “desabafo” foi politicamente endereçado. Curioso que tenha sido na Veja? Luis Nassif não acha curioso e dá pistas para pensar em “estratégia” no lugar de “desabafo”.
Mas a serenidade das reações internas ao próprio PMDB diz mais sobre o partido do que a própria entrevista do senador. Os dirigentes nacionais relevaram, alguns líderes apoiaram, outros silenciaram. Nenhum dirigente do partido cobrou nomes, provas, nada para salvar qualquer resquício de ética, nem que fosse meramente formal. É difícil imaginar algum político de outro partido emitindo tais opiniões e, mais difícil ainda, imaginar essa inanição por parte dos dirigentes dos partidos. Esse fato não denota a apenas a faceta conivente do PMDB com a corrupção e com o fisiologismo. Denota a posição estratégica do PMDB no interior do sistema partidário brasileiro, por sua flexibilidade ideológica (que é histórica) e organizacional (que é fraca) para qualquer aliança com os demais protagonistas da política nacional, seja em torno de um só, seja dividido entre as duas pontas do eixo partidário.
Na entrevista da Veja, ele disse:
“Por que o senhor continua no PMDB? Se eu sair daqui irei para onde? É melhor ficar como dissidente, lutando por uma reforma política para fazer um partido novo, ao lado das poucas pessoas sérias que ainda existem hoje na política.”
Ora, ele poderia se filiar ao PSDB facilmente. Já que apóia José Serra e lutará por sua eleição, poderia mudar de legenda como tantos fazem no país. Não o faz por razões de política local e históricas, provavelmente.
E que novo partido o senador quer? Um PMDB novo? Nem o próprio acredita numa sandice como essa, mesmo que a reforma política seja muito severa – o que de fato não ocorrerá. Afinal, uma tal reforma política enfraqueceria o PMDB, e nenhuma reforma com esse resultado seria aprovada por um ator de peso como é dentro do Congresso.
O PMDB se sustenta em dois pilares fundamentais, ambos ligados à sua história: está muitíssimo institucionalizado e bem amparado em todo o território nacional, sendo o partido com maior representação nos municípios e mais organização no “Brasil profundo”; e desfruta como ninguém da posição de “radical de centro” e tudo o que isso trás de vantajoso numa política polarizada entre duas forças partidárias concorrentes (PT, PSDB) e insuficientes para governar sozinhas no Congresso. Os dois pilares, diga-se ainda uma vez, são fruto de seu passado, de sua origem compulsória graças ao AI-2. Por este infortúnio do destino, congregou muitos e espalhados líderes de todo o país, se fortaleceu na ampla bandeira de oposição ao regime militar e hoje é isso e apenas isso que o caracteriza (uma luta já inexistente), além da própria falta de coesão e indefinição ideológica (ou, como diz o senador Vasconcelos, “uma federação de líderes regionais”). Aí reside a força do PMDB. Amplo e difuso. Tirando uma das qualidades, o PMDB perde o seu sentido na política brasileira. E Jarbas Vasconcelos onde fica? Fica no PMDB, claro.
2 comentários:
Concordo plenamente.
Abraços,
Duas coisas chamam a atenção na despudorada campanha pró Serra, travestida de indinação do senador Vasconcelos: só perceber agora deopis de 40 anos o que é o PMDB (esquecendo-se convenientemente que esse mesmo partido manteve as mesmas práticas durante o governo FHC do qual o senador era entusista), e o fato dele citar como exemplo de um tereno fértil para o assistencialismo o estado que ele governou por 2 vezes. Ora, tivesseo senador se empenhado minimamente para diminuir o grau de miséria de Pernanbuco, e talvez não fosse um estado tão vulnerável ao "marketing e assistencialismo de Lula". Mas essas questões passam longe dessa "entrevista" do senador a uma revista que se comporta como panfleto do PSDB.
Carlos Moreira
Postar um comentário