como funciona a imprensa em Curitiba
Luiz Domingos Costa
Os deputados estaduais paranaenses aprovaram um plano de aposentadoria para si mesmos e funcionários da Assembléia Legislativa na madrugada da última seção legislativa do ano de 2008. Sem mais, a matéria entrou na pauta subitamente e foi aprovada sem o registro dos votantes pró e contra, já que o painel eletrônico foi desligado.
Queriam evitar o desgaste natural de uma medida que garante uma aposentadoria altíssima para deputados que passam alguns anos pela Casa. Isto é discutível e a imprensa deveria fazer o estardalhaço de sempre, mesmo que depois da matéria aprovada e dependente apenas da sançao do governador estadual. Pois, não bastasse a raiva que a população tem de medidas assim, os meios adotados foram dignos de procedimentos mafiosos.
Poucos organismos da imprensa local se manifestaram, emitindo notas ou matérias bastante insossas, sem a indignação típica que ecoa em matérias sobre o aumento do gasto do Estado e coisas afins.
Um das poucas vozes que se levantaram foi a do jornalista Gladmir Nascimento, ex-diretor de jornalismo da Rádio Band News de Curitiba. Em tom ácido, Gladmir - que é muito respeitado por seu trabalho de implementação e condução da Rádio - comparou os parlamentares a ladrões de galinhas, que agem à noite e às escuras.
Não fosse Curitiba uma cidade atrasado em termos de imprensa, opiniões divergentes e uma classe dominante minimamente afeita aos valores democráticos, essa notícia surpreenderia: alguns parlamentares pediram a cabeça do jornalista ao proprietário das rádios de Curitiba, o empresário Joel Malucelli. O pedido foi atendido e Gladmir Nascimento não responde mais pelo jornalismo da Band News FM.
O pior é que ninguém falou no assunto, nem mesmo os blogs que são os meios nos quais correm todo o tipo de fofoca e proselitismo jornalístico. Esses jornalistas-blogueiros locais dão os continuados sinais de seu chapa-branquismo.
8 comentários:
Bom, importante ressaltar que a votação era referente ao plano de aposentadoria de todos os funcionários da casa, incluindo os deputados. Não entendo o porque de tal atitude. Desgaste político desnecessário. Se bem que utilizar caminhos alternativos para a execução dos trabalhos legislativos não é nenhuma novidade no Paraná. Basta você exercer a plenitude da sua cidadania e comparecer a alguma sessão plenária. Recomendo algumas boas doses de cafeína e um pouco de conhecimento sobre processo legislativo. Com esses dois ingredientes, garanto que vocês observarão algumas coisas fora do normal.
Sobre o ocorrido com o jornalista, se realmente aconteceu, é mais uma prova refutável de que o Paraná continua sendo uma grande província gerida por alguns poucos mandatários. Ainda temos muito o que percorrer para que a participação efetiva da sociedade civil transcenda os mecanismos institucionais. Vale lembrar que o nosso amigo Joel Malucelli é dono também da CBN, rádio jornalística com uma das maiores audiências no Paraná, ao lado da Band News FM.
Devemos reconhecer algumas medidas positivas tomadas pela atual legislatura, tais como: a intensa divulgação dos trabalhos desenvolvidos pelos deputados através da sua TV, a disponibilização gradativa de toda a produção legal online e a série de audiências públicas realizadas pelo interior do estado, entre outras ações. Tudo isso mostra uma crescente responsividade por parte do Poder Legislativo Estadual. Porém, certas atitudes, como o desligamento do painel, nos fazem muitas vezes refletir sobre a real intenção e eficiência de todo esse discurso de transparência que paira sobre a Casa de Leis paranaense.
E pra ajudar, o nosso governador falou que vetará o projeto.
Pra fechar. O bloguismo paranaense na verdade, é chapa amarela e azul.
A aposentadoria será repassada pelo Paraná Banco, e seu proprietário é (surpresa!) Joel Malucelli. Ou seja, nada melhor do que seguir a cartilha dos deputados que votam à noite, demitir um jornalista qualificado e ganhar bastante com isso...
Tudo se fecha.
Faz sentido.
Olá Luiz. Ótimo texto. Só não entendi o comentário sobre os blogs paranaenses. Vi que a notícia da saída do Gladimir foi repercutida em quase todos eles, ao menos todos os que eu leio. Vi publicado fotos do jornalista, que eu não conhecia o rosto, e até alguns textos de revolta publicados. Houve muito repúdio público à atitude.
Realmente eu recebi alguns comentários informando que eu me enganei com relação a diversos blogs que noticiaram a demissão. Aliás, eu queria reparar isso em um novo post sobre o assunto. Então, se puder me enviar por aqui os endereços consultados, eu agradeceria. Pode ser por email também: ldomingosc@uol.com.br
Obrigado e um abraço
Caro Luiz Domingos, Lhe indico uma pesquisa maior nos blogs de de jornalistas curitibanos. No meu, em particular (www.casadecomportamento.blogspot.com), fiz uma dura crítica ao fato. Talvez o problema da imprensa está na troca de acusações entre colegas de profissão, deixando de lado que ainda vivemos um outro tipo de ditadura.
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