quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Política e raças

O título deste post já é em si um motivo de discussão. Aqui no sul do Brasil as pessoas parecem não se sentirem muito confortáveis ao usar o termo 'raça', porém quando estive em Minas Gerais, não encontrei nenhum obstáculo que motivasse uma repressão do termo ou da troca do mesmo por 'etnia' - talvez por serem conceitos diferentes um do outro. A raça era tratada com muita sobriedade tanto nas ruas de Belo Horiaonte, quanto nos cursos de metodologia em ciências sociais da UFMG. Digo isso apenas para ilustrar que a coisa é tão ou mais controversa do que desejamos.

Muitas são as classificações, teorias, idéias e atitudes sobre a inclusão social do negro no Brasil. É óbvio que este tema é dos mais importantes, pois me parece no mínimo estranho que um país com mais de 40% de não-brancos tenha uma elite política composta por apenas 8,9% da mesma categoria (segundo dados da UFRJ). Da mesma forma coincide que os níveis educacionais da elites política sejam altíssimos (mais de 80%), enquanto da população os portadores de curso superior não chegam a metade. Onde está o erro? Ou, onde está o preconceito? São os partidos que não permitem que indivíduos negros sejam eleitos? São os eleitores que não votam em negros?

São perguntas de resposta difícil e que exigem estudos aprofundados e de longo tempo. Em minhas pesquisas no Paraná me parece que os partidos políticos não execram a candidatura de negros, até porque fazer o mesmo seria no mínimo politicamente incorreto. Por outro lado, não há nos partidos políticos incentivos para que minorias ocupem posições políticas de destaque e/ou saiam candidatos por tais legendas. Exceção entre os grandes partidos é o PT, que em seus escritórios políticos mantem políticas de incentivo a participação de minorias. Por outro lado, dados também da UFRJ mostram que o eleitor negro não se sente a vontade em votar em candidatos negros. Um paradoxo sem dúvida, mas o brasileiro parece não se sentir orgulhoso de sua condição racial. Pesquisadores do tema elaboraram 27 categorias para uma possível classificação de auto imputação do 'negro brasileiro'. Estas categorias iam de negro, preto, marrom, pardo até outras mais incomuns como vermelho, cor de jambo, cor de canela, moreno, etc. O que foi constatado com isso é que o brasileiro tende a se colocar num posição de centro, ou seja, a grande parte se declara 'moreno', quando tem esta opção.

Então como fazer tal classificação? Origem de ancestrais como nos EUA ou de acordo com a aparência como hoje funciona na maior parte das cotas de universidades brasileiras? O negro em boa parte dos casos não está inserido em limites territoriais e nem possui nomes e códigos que o classificam como uma etnia específica como o índio brasileiro. Como elaborar cotas então? Acredito que a solução para isso seja a aplicação de cotas sócio-econômicas. Por um motivo simples: o negro está, além da sua condição sofredor de preconceito pelo atributo cor de pele, inserido numa lógica perversa de exclusão social e econômica, o que gera exclusão civil e política. Com as cotas sócio-econômicas, acredito que tanto o problema da pobreza, quanto da 'raça', seria contemplado.

Para finalizar lembro que a discussão das cotas é a longo prazo. Será preciso mais de uma geração para que possamos ver deputados, senadores, juízes e quem sabe um presidente negro no Brasil. Quando isso acontecer, as cotas serão motivos de comemoração. Sem as cotas (de vários tipos delas - gênero, étnica, racial, etc.) será impossível que o Brasil progrida na inclusão, gerando um sentimento de aceitação mais maduro por parte da população e da elite política brasileira.

3 comentários:

Adriano Codato disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Adriano Codato disse...

Bruno, concordo com a disposição geral do seu artigo --- a favor das cotas --- mas discordo da solução que consiste em fundir (ou dissolver) o problema da raça/etnia no problema da classe/condição econômica.
O Ponto é que cor da pele, no Brasil, é sim um motivo de discriminação negativa até para os negros de classe média. Essa é uma experiência que nós dois, brancos até a medula, não temos, não vivemos e assim fica fácil teorizar sobre. No mínimo, no mínimo a presença dos negros/pardos na universidade brasileira faria essa classe média branca, preconceituosa e estúpida reconhecer a existência social deles.
Começam a sair os primeiros estudos acadêmicos sobre o impacto das cotas e currículos, cursos e etc.
Vamos acompanhar esse debate científico.

Bruno Bolognesi disse...

Adriano, acho que você tem um razão. O simbólico é sim muito importante, porém o grosso, a massa de negros no Brasil se concentra nas regiões desfavorecidas. E assim, não precisamos cair no embate fenotípico e/genético sobre o tema.