O fim da “meia-entrada” e a picaretagem geral
A "meia-entrada" – ou o desconto de 50% para eventos culturais concedido à estudantes de todos os níveis – está na UTI.
Um projeto da senadora Marisa Serrano (PSDB-MS) acaba de ser aprovado na Comissão de Educação e Cultura do Senado. Como é uma ‘decisão terminativa’ não precisa passar pelo plenário do Senado, indo direto à Câmara dos Deputados para sua aprovação. Inácio Arruda (PCdoB-CE) pretende recorrer e fazer com que a matéria vá ao plenário. Detalhes aqui.
Prova de que os artistas do país são muito fortes politicamente. Além de conseguirem muitas verbas públicas para suas atividades (em um mercado muito inofensivo), ainda vão lá e derrubam uma medida que parecia justa.
Mas não podemos esquecer uma historinha.
As entidades estudantis – especialmente a UBES e a UNE, que um dia detiveram o monopólio de vender as ‘carteiras estudantis autorizadas’ a meia-entrada – transformaram isto em um mercado para enriquecer suas burocracias internas e transformar o PCdoB numa oligarquia à frente dos DCE’s, e dos congressos da UNE. Em idos de 1998, a carteirinha da UNE custava 25 reais e durava um ano! Imagine quanto custaria hoje...
FHC emitiu uma medida provisória para acabar com essa farra e liberou geral: qualquer carteira de qualquer escola deveria ser aceita para a “meia-entrada”. Pronto, um prato cheio para a falsificação. O número de “estudantes” nos cinemas passou a ser, rapidamente, imensamente maior do que aqueles matriculados nas escolas. Na frente de uma bilheteria, o Brasil parecia uma Suíça.
Os produtores e empresas do ramo deram o troco: transformaram a entrada inteira em entrada “dupla”. Todos sabemos, dobraram o preço das entradas para receberem a entrada inteira como se fosse meia-entrada. Uma baderna completa.
Agora, uma lei tenta regularizar um pouco essa bagunça. Mas quem vai sair perdendo, claro, é o estudante (aquele que ainda freqüenta escola e não tem renda própria). A partir deste projeto, apenas 40% dos acentos das atrações ficarão disponíveis à “meia-entrada”. É pouco, sobretudo para certos eventos que são maciçamente freqüentados por estudantes. Além disto, eu duvido que o preço cobrado atualmente venha a baixar em função dessa “regularização”. Ora, os estudantes que ficarem fora da cota de 40%, não irão pagar nem meia, nem inteira. Irão pagar a entrada caríssima que hoje é cobrada em qualquer evento cultural desse país.
Tudo bem, os artistas são muito corporativos e querem cuidar do seu negócio – eles estão preocupados com políticas de incentivo à cultura só quando essas se referem à financiamentos e verbas para suas produções. Mas os estudantes (digo, aquelas entidades), também souberam se aproveitar de uma oportunidade de inflar seu negócio no momento que o Estado abriu a guarda.
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