terça-feira, 9 de outubro de 2007

Pró-alcoól e trabalho escravo

A discussão sobre os biocombustíveis, os com bustíveis não poluentes e renováveis está num patamar internacional com destaque ao produto brasileiro. Nos últimos meses, todos os lugares que o presidente Lula visitou foram assoberbados com um dircurso, um lembrete, uma nota de rodapé sobre a necessidade da produção dos combustíveis ecológicos e de como o Brasil poderia encabeçar isto.
Não tenho dúvida que o Brasil pode encabeçar este projeto. A cana-de-açucar produz mais combusível com menos substrato do que o milho (principal fonte de alcoól de cereal nos EUA) e as áreas de cultivo disponíveis em nosso país são amplamente superiores do que em qualquer outro território ao redor do planeta. Além do que, eu é que não vou ser contra o movimento ecológico.
Para além disto, a produção e exportação deste produto geraria emprego e renda para o Brasil. É justamente neste ponto que poucos falaram - o emprego de quem corta cana. O presidente Lula há pouco em seu discurso em Estocolmo salientou que a plantação de cana-de-açucar na Amazônia é inviável. Logo depois, na ONU, diz que o planejamento agroecológico para a produção de biocombustíveis já está atrasado. O Ministro da Agricultura, Reinold Stephanes, está com o céu em brancas nuvens. Nada de direito dos trabalhadores.
Até o momento apenas a Profa. Maria Aparecida de Moraes Silva se pronunciou sobre a questão do trabalho do plantio da cana.
Em artigo na Folha, a socióloga bem lembrou que a condição em que vivem os plantadores de cana e a rotina de trabalho dos mesmos é muito próxima da escravidão. Para termos apenas noção, basta saber que para cada tonelada de cana extraída são necessárias mil "facãozadas". O valor de cada tonelada de cana é de R$ 2,50. Quem produz pouco é chamado de "facão de borracha" ou "fraco" pelos colegas. Qualquer tentativa de reinvidicação ou resistência á exploração tem como consequência a dispensa do serviço. Para quem precisa dos 8 meses de colheita para sustentar a família que está longe por todo ano, a ameaça não é pequena. A "vida útil" de um cortador de cana é em média de 15 anos - se começar a trabalhar com 18, chega aos 40, no máximo. Segundo os anais da história, a vida últil deste trabalhador é inferior ao do escravo do Brasil colonial. Na região canavieira de São Paulo, de 99 a 05, tivemos 72 óbitos (fonte: MP e INSS).
Não resta dúvida que a política está desvinculada da sociedade, mas estamos deixando a vida de lado. A vida de quem sofre para que você possa gastar menos dinheiro ao abastecer seu carro dotado da tecnologia de ponta FLEX.

2 comentários:

Luiz Domingos disse...

grande ponto de se ressaltar no debate sobre desenvolvimento econômico ecológicamente sustentado!
Crescer o bolo e criar energia renovável é coisa a ser feita no longo prazo, depois de resolver questões tão urgentes quanto estas que você coloca.
E ninguém fala nada disso, impressionante.

Bruno Bolognesi disse...

Não entendi se foi ironia ou se vc falou sério, Domingos?

Abçs