quinta-feira, 16 de agosto de 2007

[Opinião] Razão e Sensibilidade

Uma nova crise econômica parece se avizinhar. Os principais bancos centrais do mundo, o europeu, o americano e o japonês, estão queimando reservas para acalmar esse ente muito sensível, o mercado (parece que ele anda como uma pessoa entre nós e temos que tomar muito cuidado para não magoa-lo). No Brasil, Meirelles, Mantega e Lula dizem que a crise não vai atingir o Brasil. Será? Estou torcendo para que não (mas literalmente não apostaria meu dinheiro nisso).
O problema é que se realmente a crise emplacar as chances de retomar o crescimento podem ir por água abaixo. Um trem de oportunidades está passando na frente de Lula, bem devagar, mas bem devagar, e não há Cristo que faça ele embarcar. Os juros parecem que vão voltar a crescer (o processo de corte da taxa básica, a selic, estava barateando a dívida, o que deu 60 bilhões ao governo para gastar), o dólar que estava em 1,85 já está em 2 reais. A bolsa que penou para passar dos 50 mil pontos (estava chegando aos 60), parece que vai voltar para abaixo desse índice. Será o início do fim da pujança?
Acontece que o governo não apostou num modelo de crescimento diferente, investindo numa estrutura que já não consegue mais fazer a economia se desenvolver a muito tempo, esse estado, que conjuga estrutura de social democracia européia com políticas fiscais ortodoxas (ou neoliberais?). Lula embarcou na popularidade e na boa fase da economia mundial para manter as coisas como estavam. Por um lado manteve a ferro e fogo a política econômica do antecessor, o que minguou as pretensões de setores do seu partido e os recursos para investimentos. Os superávits continuaram altos, os juros na estratosfera e o crescimento quase subterrâneo. O governo não chegou nem perto de discutir uma maior intervenção estatal em setores estratégicos, como os de minério e energético e muito menos políticas protecionistas (ao contrário, num ato que só o governo entendeu, considerou a China como economia de mercado). Por outro lado, não aprovou as ditas reformas estruturais, não criando um ambiente tido como propício para investimentos, com carga tributária menor, procedimentos burocráticos mais limpos e uma legislação trabalhista flexível (essa última, com razão, causa arrepios na base tradicional do PT). Nem à esquerda, nem à direita. Nem desenvolvimentismo, nem neoliberalismo. Apenas manteve, se não piorou, o deformado Estado Brasileiro.
O Brasil poderia ter crescido muito mais. Atingimos índices inexpressivos perante outros países em desenvolvimento, mesmo tendo incontáveis potencialidades (não cansa repetir isso que está todo mundo cansado de ouvir, mas quem sabe um dia entra por osmose). Na falta de sensibilidade do atual governo, continuará imperando a razão dos burocratas da economia. Só nos resta torcer para crise não vir, e para que o passageiro Lula, finalmente embarque.

Um comentário:

Bruno Bolognesi disse...

André,

Excelente seu post. Esclarecedor como sempre.
É triste a ilusão de acreditar que governos podem mudar Estados, mas nós insistimos em tentar.

Atualização: 1 US$ = 2,07 R$. Em tempo de Brasil blindado.

"A fé remove montanhas, mas eu prefiro dinamite".

Abraços