segunda-feira, 13 de agosto de 2007

[Opinião] Diferenças entre PSDB e PT

Segundo a professora Lourdes Sola, cientista política da USP, "o PSDB tem um pudor enorme de se apropriar de suas realizações políticas e um medo pânico de ser acusado de direita".
A afirmação encontra-se em entrevista publicada pelo jornal O Estado de São Paulo de ontem (de 12-08-07, disponível aqui), que acompanha uma matéria sobre o congresso do partido, convocado para setembro, que promete ser uma "cruzada" para enfrentar os fracassos das últimas eleições e a falta de "identidade" do partido junto ao eleitorado.
A entrevista é esclarecedora dos erros e desafios do PSDB, por um lado, e de algumas diferenças entre os governos tucano e petista, por outro.
Entretanto, duas avaliações da professora me parecem equivocadas:
1) Creditar a "blindada" popularidade de Lula ao bom momento da economia e aos programas assistencialistas está se tornando um lugar comum cansativo em qualquer lugar que se olhe na imprensa. Estabilidade econômica é garantia de altas taxas de aprovação para qualquer governo, mas as taxas de Lula surpreendem. Ao ponto de fazer valer a máxima: precisamos de mais dados e de mais tempo para entender o fenômeno. É preciso mais tempo para sentir os efeitos de tamanha popularidade na competição política e é preciso uma maior profundidade de dados (do que simples pesquias de popularidade) para desvendar suas causas. Então, não parece suficiente afirmar que Lula está com a avaliação positiva apenas por tais razões, e nem mesmo convence afirmar que "o preço dos alimentos e do cimento também baixou" para complementar o argumento. A contar pela última pesquisa do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor), o preço dos alimentos voltou a subir além da média de inflação do semestre e não deverá afetar as taxas de aprovação de Lula.
2) Parece que a diferença básica entre o PSDB e o PT não reside em sua posição com relação às instituições; nem mesmo aquilo que seus programas defendem deve ser o elemento central. O que parece ser a diferença central é a origem de cada um. O PSDB nasceu de uma cisão do PMDB no interior do Congresso, no final da década de 1980. Foi formado por uma facção parlamentar descontente do PMDB, com nomes consolidados da política nacional, chegando ao poder em diversas prefeituras e estados importantes, culminando com a eleição de Fernando Henrique Cardoso para a presidência em 1994. O PT, por sua vez, é um partido com origem no sindicalismo operário paulista, nos movimentos católicos de base e em setores intelectuais, que nasce com uma proposta política revolucionária e apresenta uma estrutura interna muito original, mesmo em relação aos casos típicos da social-democracia européia. Apresentou um mobilização crescente, uma militância intensa e um crescimento eleitoral lento e consistente. Agora que ambos se tornaram os principais atores da disputa política no Brasil, esquecer essas histórias e olhar apenas para os programas (que são mais mutáveis do que a própria história de cada um) é desconsiderar aquilo que é sociologicamente mais decisivo: as relações entre os militantes e o seu partido que cada tipo de formação partidária ensejou. O PT mudou o programa, se adequou à receita neoliberal e hoje enriquece os banqueiros, se aproximando do PSDB. Mas não parece que de diferente entre os dois só sobrou apenas a posição de cada um em relação à democracia ou ao "Estado de direito"...

2 comentários:

Lucas Massimo disse...

Domingos, dois adendos.

1. Ao afirmar que a classe média esta premida entre ricos e pobres como os grandes benefeciários do gov. Lula a eminente cientista não percebe que o modelo econômico que privilegia o capital financeiro não é política de governo, mas sim política de Estado. O que o (agora sim) GOVERNO Lula faz é dar prioridade aos pobres na medida do possível, vale dizer, com o $ que sobra.

2. Supor a disputa pela paternidade da estabilidade se resolve no plano internacional significa subordinar a perfomance da política doméstica como ponto de pauta da agenda pública. Ao afirmar que Lula surfa nos números da estabilidade por efeito da conjuntura internacional, Sola (e demais tucanos) afirmam que as prioridades do gov. Lula não contam. Trata-se portanto de uma estratégia político-ideológico de descapitalizar a plataforma Lulista.

O problema é que nem todos os brasileiros estudam e/ou estudaram na USP. As recentes pesquisas de opinião dão a tinta que esse lero lero não pega.

André Ziegmann disse...

Parece que ela fala do Hugo Chávez!
Como a cegueira ideológica obscurece as intervenções, mesmo que seja de uma cientista política de alto calibre.