Estudo mostra Assembléia elitista e sem representação
Do arquivo Folha de Londrina de 7-01-2007
O Paraná tem uma Assembléia Legislativa elitista, que não conta com representantes das minorias. As conclusões são de um estudo realizado durante a última legislatura, encerrada no ano passado, por Francis Augusto Góes Ricken, estudante de Ciências Sociais da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Durante dois anos, Ricken analisou dados socioeconômicos e políticos fornecidos pelos 54 deputados estaduais eleitos para a última legislatura e pelos 8 suplentes que chegaram a assumir mandatos nesses quatro anos. O primeiro dado que chama a atenção é a disparidade entre homens e mulheres. Dos 62 deputados que passaram pela Assembléia, apenas quatro eram mulheres. No total, os homens ocupavam 93,5% das cadeiras. Situação que permanecerá inalterada a partir de fevereiro, quando assumem deputados eleitos no último mês de outubro.
O levantamento de Ricken começa a mostrar o perfil elitista da Assembléia quando divide os deputados quanto à cor de pele: 59 deputados (95,2%) são brancos. Apenas três se classificaram como pardos, representando apenas 4,8%. ‘‘Não existe, por exemplo, um representante dos negros ou de uma minoria indígena’’, afirma o estudante.
Quando se entram em detalhes econômicos e profissionais, o elitismo fica ainda mais claro. Segundo o levantamento, 38,7% dos deputados são de classe média-alta. A maioria dos parlamentares, 51,6%, exerce profissões intelectuais. Em geral são médicos, advogados, administradores de empresas e jornalistas, entre outros. Além disso, 21 deputados são classificados como ‘‘grandes proprietários’’, incluindo agropecuaristas e empresários. No total, 67,7% tem diploma de curso superior. ‘‘E os que não têm estão bem estabelecidos social e economicamente’’, acrescenta Ricken.
Ele destaca ainda que mesmo os deputados que tinham carreiras como trabalhadores assalariados, exerciam em geral cargos no serviço público. ‘‘Eles não representam a grande massa de trabalhadores braçais’’, ressalta. Ricken tembém aponta para a quase ausência de deputados que possam ser classificados como ‘‘populares’’. ‘‘Mesmo os que se são mais ligados ao povo, como é o caso dos radialistas, fazem parte da elite, já que em geral também são proprietários de rádios’’, justifica o estudante.
Em sua pesquisa, Francis Ricken aborda ainda o que denomina de capital social. ‘‘Ele é a soma de elementos que ajudam na eleição do deputado’’, explica. Entre esses elementos estão a trajetória política pessoal, o histórico político da família, o fato de possuir espaço na mídia, com programas em rádio ou televisão, a ligação com correntes religiosas e a participação em movimentos sociais. Segundo o levantamento, 64,5% dos deputados do Paraná na última legislatura possuíam algum tipo de capital social. ‘‘Esse capital também mostra um aspecto elitista, porque os deputados ligados a lutas de engajamento social ainda são minoria’’, afirma Ricken.
Um dos principais elementos do capital social na Assembléia continua sendo a trajetória política. Apesar de constatar que há uma renovação a cada legislatura, Ricken chegou à conclusão de que os novos deputados que entram acabam ocupando o lugar daqueles que cumpriam seu primeiro mandato. ‘‘Há uma renovação média de 20%, mas a maioria que permanece é a que já passou do segundo mandato’’, diz.
Com todos o dados pesquisados, Francis Ricken chega à conclusão de que a Assembléia não reflete realidade da população em geral. ‘‘A população que mais necessita não é representada. Não existem parlamentares pobres ou representantes de minorias. Só a elite é que tem o capital social para conseguir se eleger’’, declara.
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