Histórico de renovação da Câmara
Antônio Augusto de Queiroz*
*Jornalista, analista político e Diretor de Documentação do DIAP – Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar.
A análise de eleições proporcionais no Brasil, combinada com fatos da conjuntura e com as alterações na legislação eleitoral, fornece algumas pistas importantes sobre o provável índice de renovação da Câmara dos Deputados no pleito de 2006, que ficará abaixo da expectativa. Estima-se uma renovação em torno de 45%, muito próxima da havida na eleição de 1998.
O resultado das quatro últimas eleições (1990, 1994, 1998 e 2002) obedece a um padrão, que tende a se repetir nesta eleição:
a) o índice de renovação é inversamente proporcional ao número de candidatos à reeleição; ou seja, quanto maior o índice de candidatos à reeleição, menor o índice de renovação,
b) o índice de reeleição é sempre superior a 50%; e
c) o índice médio de recandidatura tem sido da ordem de 80%, conforme tabela abaixo.
Ano da eleição | Composição da Câmara no ano da eleição | Nº de candidatos à reeleição | Índice de recandidatura | Reeleitos | Índice de reeleição em relação ao nº de postulantes à renovação do mandato | Índice de renovação em relação à composição da Câmara |
1990 | 495* | 368 | 74,34% | 189 | 51,35% | 61,81% |
1994 | 503** | 397 | 78,92% | 230 | 57,93% | 54,27% |
1998 | 513 | 443 | 86,35% | 288 | 65,01% | 43,85% |
2002 | 513 | 416 | 81,09% | 283 | 68,02% | 44,83% |
2006 | 513 | 433 | 84,40% | 267 | 61,66% | 47,95% |
*A composição da Câmara para a Legislatura
** Lei Complementar aumentou a bancada de São Paulo de 60 para 70 deputados. A composição da Câmara para a Legislatura 1995 a 1999 passou de 503 para 513 deputados.
Combinando os dados de eleições anteriores, que sinalizam para elevado índice de reeleição, com as mudanças na legislação eleitoral que reduziram a divulgação das campanhas e com a ausência de novas lideranças políticas na disputa, a tendência será de uma renovação menor que a inicialmente imaginada em face da crise política e dos escândalos.
As mudanças na lei eleitoral favoreceram os candidatos à reeleição e os custos de imagem afastaram dos partidos nomes novos, sérios e com potencial eleitoral, da disputa à Câmara. A redução dos gastos de campanha e a proibição de outdoor, camisas e bonés facilitou a vida de quem já era conhecido, como é o caso dos atuais detentores de mandato, enquanto a ausência de novos nomes competitivos reduziram as chances de renovação real, limitando a eleição à recondução dos atuais e à circulação no poder, com o retorno de ex-ocupantes de cargos públicos.
A eleição proporcional, portanto, levará à renovação do mandato da maioria e uma circulação no poder, limitando a renovação real aos artistas e comunicadores, aos parentes de políticos famosos e aos bispos de pastores das igrejas evangélicas.
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