segunda-feira, 26 de maio de 2008

Dados de pesquisa: gastos de campanha, esquerda e direita

Recentemente o NUSP - Núcleo de pesquisa do qual o grupo que mantém esse blog faz parte - construi um grande banco de dados a partir de informações do TSE. Esse banco possui dados de todos os candidatos a deputado federal, estadual, senador, governador e presidente da República no último pleito (o banco completo pose ser acessado em www.nadd.prp.usp.br/cis).

Em minhas pesquisas e andanças pelos partidos paranaenses cruzei alguns dados interessantes. Aliei os dados deste banco aos dados dos gastos de campanha dos candidatos a deputados no PR (a fonte deste dados foi o TSE e o site Às Claras).

A conclusão que cheguei foi muito simples: como diria Duverger, o mais importante dos atributos do político é dinheiro. Dos candidatos a deputado federal e estadual pelo PFL, 100% dos eleitos teve altíssimo gasto de campanha, acima de 250.000,00 reais. Os que não foram eleitos tiveram gasto médio em suas campanhas. No outro extremo ideológico (ou nem tão extremo assim) o PT apresentou entre seus eleitos gastos de campanha alto (de 151.000,00 até 200.000,00 reais) e médio (de 101.000,00 até 150.000,00) reais. Os derrotados pelo Partido dos Trabalhadores possuiam gastos de camapnha entre somente entre os estratos médio e baixo. Vale ainda dizer, que, no caso do PT a maioria dos eleitos está entre os que gastaram dinheiro alto.

A ideologia partidária importa no momento em que os políticos sedimentam suas carreiras até a eleição. Nas campanhas políticas, gasta mais quem pode mais. Quem gasta menos, perde mais.

terça-feira, 13 de maio de 2008

Dados Criminalidade - São Paulo e Paraná

Tanto a Secretaria de Segurança Pública do Paraná como a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo tem em seus sites dados a respeito dos crimes cometidos nos respectivos estados da federação.

São Paulo tem dados desde 1995 e também relatórios trimestrais que abordam as possíveis variáveis (lugar, tempo, modo) de execução dos delitos, bem como a metodologia de coleta dos dados.

Já no Paraná, os dados alcançam o ano de 2007 e o primeiro trimestre de 2008, também incluídas as variáveis de tempo, lugar e espaço, bem como algumas notas metodologicas e informações acerca do Boletim de Ocorrência Unificado.

É, sem dúvida, uma nova fonte de pesquisa para pesquisadores que tem interesse na área, juntamente com o site do Ministério da Justiça e da Saúde.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Partidos, ideologia e bancadas partidárias

Existe no interior da acadêmia internacional e nacional um debate acerca da falência dos partidos políticos. Muitos são os autores que colocam os partidos como meros coadjuvantes das vontades e desmandos das elites que aparelham os mesmos. As agremiações partidárias estariam perdendo espeaço tanto na arena eleitoral, quanto na decisória.

Na esfera eleitoral, em países mais desenvolvidos economicamente como a Inglaterra, Suécia, Bélgica, Finlândia, Suíça, Noruega, Dinamarca e os EUA, os partidos deixariam de cumprir sua função social de socialização e coesão, em vista da busca por novos horizontes pós-materialistas que a classe baixa e média agora vislumbra, com a superação das necessidades materiais e condições básicas de vida, estão interessadas em questões como o bem estar, o lazer, etc.. Por outro lado os partidos políticos estariam entregues à mercê da mídia e com o advento da televisão não é mais necessária a participação in loco dos indivíduos, a TV chega até os mesmos de forma igual.

Na arena decisória os partidos não encontram mais a disciplina de seus representantes nos congressos, senados, câmaras e assembléias. Isso parece ser uma consequência da falta de coesão que os partidos apresentam, ou seja, devido a fragilidade organizacional dos mesmos seus representantes ocupantes de mandato não se sentem constrangidos em desobedecer O partido, ou O líder (do surgimento dos partidos na Inglaterra, wipman, "homem do chicote"). Ainda, a falta de controle dos partidos sob seus membros pode ser fruto do excesso de democratização interna dos mesmos, resultando da perda de controle de zonas estratégicas.

Os argumentos acima expostos parecem não ser verdade por dois motivos: i) partidos diferentes inseridos no mesmo contexto histórico e mesmo arranjo institucional apresentam comportamentos diferentes. Ou seja, a explicação não é macro, mas sim focada na unidade dita partido político (vide PTB e PT no Brasil ou PDC e PS na Bélgica) e; ii) a ideologia parece ainda surtir efeito sob o comportamento dos membros de partido, tanto na arena eleitoral, quanto na decisória. Não obstante, a ideologia faça parte da organização partidária.

Os dados sobre as bancadas de "representação" dos partidos podem mostrar um indicativo de como a ideologia ainda opera nas legendas políticas. Utilizarei alguns exemplos do caso brasileiro para elucidar minha tese.

A bancada evangélica no Brasil* ocupa, em média, 6,81% do total de cadeiras em 37 Assembléias Estaduais, Câmaras Municipais, Senado e Câmara federal. Poderíamos pressupor, hipotéticamente, que cada partido brasileiro teria interesse em ter uma mínima representação evangélica (assim como todas as outras bancadas que possuem safe seats nas listas eleitorais), já que a mesma se traduz em número efetivo de cadeiras ocupadas. Isso não ocorre. A bancada evagélia concentra-se em três partidos: PRB (68% de evnagélicos), seguido pelo PL (50%) e por último o PTC (com 30%). De outro lado o PT afirma não ter nenhum político ligado ao segmento petencostal.

A proporção se refere ao número de políticos que detém mandato pelos partidos e se declararam pertencentes à referida bancada.

A bancada ruralista possui em média 20,62% de representação em 27 casas legislativas espalhadas pelo país. A lógica de pensamento que utilizaremos é a mesma. Os partidos que concentram esta bancada são: PL 50%; PSL 21%; DEM 20%; PTN 20%; PR 19%. Na outra ponta PT e PSB possuem apenas 2% de ruralistas entre seus legisladores.

Os sindicalistas é o setor que pode caracterizar a esquerda no Brasil. À frente desta bancada temos o PSOL com 60% de políticos sindicalistas, o PT com 34% e o PC do B com 29%. No pólo oposto, DEM, PSDB e PR não chegam a ter juntos, 3% da representação de sindicalistas.

Por fim temos a bancada empresarial. Tal grupamento concentra 100% de seus ocpuantes nos seguintes partidos: PMDB; PSDB; DEM e; PTB.

As possíveis respostas para este fenômenos encontram-se em duas percepções distintas. A primeira está ligada à identidade e à imagem que cada partido proporciona. Em entrevistas com lideranças do DEM e do PT paranaenses, esse que vos escreve encontrou que os partidos não "vetam" explicitamente a entrada de indivíduos oriundos de setores alheios aos que o partido representa. O veto, se assim podemos chamar, acontece num momento antes, no momento em que o indivíduo não se vê à vontade em participar deste ou daquele partido político. A segunda percepção está calçada na origem partidária, ou seja, a forma com que o partido surgiu, se foi parlamentar, extra-parlamentar, partido de quadros, partido de massas, entre outros, determina o lugar do recrutamento de novos membros, que serão suas lideranças e seus representantes.

É claro que os partidos do tipo catch all ocuapam espaço no quadro político brasileiro e também no resto do mundo. Mas é uma injustiça dizer que os partidos são acessórios ou deixaram de exisitr. Apenas para situar a importância do partido e de sua origem/organização, lembremos o caso da executiva nacional do PT que 'melou' a aliança municipal com o PSDB mineiro.

Em suma, a organização conta, a ideologia conta e origem idem. O modo se operar institucionalmente muda de lugar para lugar, mas mais importante que isso é que os partidos não são todos iguais, mesmo quando não se modifica os lugar geográfico e o tempo histórico.

A bancada evangélica não é propriamente ligada à classes e nem parece ideologicamente coesa, porém ela é uma das mais numerosas do legislativo brasileiro, por isso o destaque da mesma aqui.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Voto em Lula: classe social, ideologia ou identificação com o candidato?

No sub-campo “comportamento eleitoral” da ciência política existe uma centena de artigos acadêmicos dedicados a analisar o voto em Lula: se mais ou menos ligado à identificação ideológica (de esquerda), se mais associado à identificação partidária (com o petismo), se relacionado ao sucesso desta ou daquela política econômica...

Mudança importante verifica-se entre a eleição de 2002 e a de 2006. No primeiro pleito, a variável identidade ideológica (de esquerda) foi mais significativa para explicar o voto em Lula; em 2006, diferentemente, o estrato social foi uma variável mais decisiva sobre a decisão de votar ou não em Lula, fazendo com que a dimensão ideológica perdesse peso na escolha do presidente.



Mas, afirmam as autoras do estudo: "
Não obstante essas diferenças, nos dois momentos, o voto em Lula em específico é mais fortemente explicado pela simpatia e identidade com o candidato."

Por enquanto, o "x" da questão continua a ser "efeito Lula" sobre o eleitorado brasilero...


Do artigo “Classe, ideologia e política...” de Denilde Oliveira Holzhacker e Elizabeth Balbachevsky.
Opin. Publica , Campinas, v. 13, n. 2, 2007 .

A revista Opinião Pública, em seu último número (v. 13, n. 2), apresenta uma série de análises sobre as eleições de 2002 e 2006, que vão desde impacto da corrupção, partidarização do voto, eleitorado evangélico etc.

Post-Scriptum:

Não há o menor cabimento tomar em estes dados e estas conclusões para afirmar que políticas sociais (“assistencialistas”, como quer a revista Veja) amealham votos, porque o artigo não se refere ao impacto das políticas (quaisquer que sejam) sobre o voto. Há outros artigos dedicados a medir este tipo de hipótese.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

A Importância das Coalizões

O candidato da aliança denominada "Povo da Liberdade", o empresário Silvio Berlusconi, sobe ao poder na Itália pela terceira vez como primeiro-ministro (1994-1995; 2001-2006). Com 47% dos votos, a lista partidária (partido Força Itália, Aliança Nacional, Liga do Norte e outros de porte reduzido), conseguiu 340 cadeiras na Câmara Baixa e 171 cadeiras no Senado. São 630 deputados e 315 senadores, no total.

Berlusconi assume o mais importante país da península apenina em tempos difíceis: recessão a vista (crescimento esimado em 0,3%) e equilíbrio fiscal cambaleante. Para conseguir implementar seu plano de governo, calcado, segundo informa, no corte de gastos públicos e aumentos dos investimentos estatais, deverá contar com uma coalizão nada homogênea. E como sabemos, em se tratando de parlamentarismo, uma vez perdida a maioria no legislativo, está perdida a governabilidade e com ela também a cabeça do chanceler.

O partido Aliança Nacional, principal apoiador de Berlusconi, irá, segundo informações do site UOL Últimas Notíciais, se fundir ao partido do atual chanceler, o Força Itália, criando definitivamente o PDL - Povo da Liberdade. Se essa fusão se verificar, prevista para o segundo semestre, pode trazer certa força e certa estabilidade para a coalizão eleita.

Porém, o calcanhar de aquiles da coalização é o partido autônomo, xenófobo, como o definiu a Folha de São Paulo, Liga Norte que conseguiu expressivos 8% dos votos nacionais. No Senado, 25 cadeiras e na Câmara, 60 cadeiras. São fortes números considerando que a oposição (Partido Democrata - PD - e Itália dos Valores - IDV) tem 239 cadeiras na Câmara e 130 no Senado. Apesar do parlatório do chanceler, é sabida a importância que a Liga ocupa na arena eleitoral e ocupará no locus decisório. Sem a Liga, o gabinete e o primeiro ministro sucumbem, necessariamente.

Embora o Brasil adote o presidencialismo, aqui também o governo fica de mãos atadas sem a aliança com certos partidos, na malfadada esperança de conseguir a maioria. Por conta do almejado apoio, barganha cargos ministeriais, emendas orçamentárias, cargos de segundo escalão, direções em empresas públicas, enfim. Aqui o Partido do Movimento Democrático Brasileiro é o principal apoiador do governo. A duras penas, é claro (no início de 2007, 12,12% das 33 pastas ministeriais eram do PMDB, que perdia apenas para o PT).

Com um porém. No Brasil vivemos diante de um Executivo com superpoderes que é quem dá as cartas na aprovação de projetos de lei, reformas e MP's. Portanto, apesar da extrema importância da coalizão forjada sob "auspícios ocultos" de cargos e nomeações, quem dá as cartas no processo decisório é o Executivo (agenda, concertos com os líderes partidários). A vantagem perante a Itália é que perdida a aliança, forma-se uma nova, reconstituindo o gabinete, com base nos partidos que compõem a nova lista.

Nítido é que a composição de uma nova base não é tão fácil e, por vezes, nem sempre é possível. Nesses casos, os políticos recorrem a métodos não tão republicanos...

Cuidado com os seus arquivos

O provedor iG defenestrou de seu domínio o Conversa Afiada, blog do jornalista Paulo Henrique Amorim. Em se tratando de terras tupiniquins, não surpreende. Alegaram baixa audiência, sem mais nem menos, e tiraram do ar tudo o que ele já havia publicado, anos de trabalho jornalístico, entrevistas, reportagens, artigos... Luiz Felipe de Alencastro, a propósito, atenta para a queima de arquivos eletrônicos ocorrida no caso.

Isto, por si, já faz pensar em como as coisas funcionam na imprensa nacional.

No que diz respeito ao Conversa Afiada (agora em seu novo portal), a abordagem é o extremo oposto da imprensa nacional: doses fortes de governismo, pau na oposição e uma ferrenha luta contra a imprensa – agora com o iG incluído no grupo, todo ele sob a (discreta) sigla de PIG (Partido da Imprensa Golpista). Exageros à parte, não faz mal para ninguém (dado o bombardeio que sofremos ao ligar a televisão ou abrir os principais jornais), desde que tomado com bastante bom senso.