Piquetes, apatia, participação e ainda, a mídia - debate
[Cinelândia, 1968, Rio de Janeiro.
Pedro de Moraes. Pirelli/Masp]
No post abaixo, sobre a ação policial contra os manifestantes da USP, surgiu um debate sobre uma série de questões envolvendo problemas da organização política da universidade brasileira e outros tópicos interessantes:
Por Mônica
"Veja bem, Luiz, não foi assim que as coisas aconteceram... não havia ocupação da reitoria quando a polícia foi chamada, e os piquetes estavam bem limitados (e "pacíficos", como gosta quem acha que vive em uma democracia em que as relações de força são simétricas, permitindo o glorioso debate). A reitoria tentou se instalar no IPEN (área militar) e em outra fundação... como sempre fez - as atividades burocráticas NUNCA pararam. A questão não é essa.
A polícia passou da conta? É uma questão de medida - tipo, um pouquinho menos "tudo bem"? Sim, claro, como você disse, não se trata de uma posição política, aqui...
[...]
Quando há ocupação, a reitoria trabalha em outro prédio. A questão é política.
Luiz, o piquete que estava lá na reitoria antes da chegada da polícia era de funcionários, que já estavam em greve, e não de estudantes. E a reitoria não pode trabalhar com hipóteses: isso jamais justificaria a entrada da PM. Estava tudo bem, a greve inclusive estava bem fraca, e um dia acordo, no crusp, desço e eis que vejo vários homens da Força Tática (sem identificação...), três carros dos bombeiros no final da rua da reitoria (um de socorro, sabe?), e viaturas da PM para todos os lados. Que tal?
[...]
Minha humilde opinião é a seguinte: os piquetes pretendem assegurar que todos aqueles que queiram, possam efetivamente participar da greve. Explico. Há uma espécie de violência que não é esta violência física e direta que se pode identificar na ação da polícia e às vezes nas ações dos grevistas (embora haja diferenças gritantes). Trata-se de uma violência apoiada em relações de poder e constrangimentos que não pode ser negada. Quem já participou de uma greve sabe bem disso. O constrangimento moral acontece entre os professores, dos professores com alunos ("vou dar aula e pronto, que quer ir, vá... só tem prova semana que vem"), com os funcionários então! Bom, acho que isso dispensa exemplos. Assim, os piquetes servem justamente para evitar esses constrangimentos morais, essa violência silenciosa, para que aqueles que querem realmente possam fazer greve, participar das assembléis, discussões, manifestações."
Para as demais intervenções no debate, clique aqui.
Comentário meu:
A intervenção acima me pareceu importante - pelo relato apresentado e também por uma posição pouquíssimo vista fora da universidade. Daí que o debate parece frutífero, mas ainda resta incrementá-lo, e outras posições devem ser incorporadas. Qual seria, então, a direção causal da relação entre descolamento da ação dos líderes políticos e demais atores (os apáticos) no interior da universidade? Será a intimidação simbólica e institucional - por meio de sanções como faltas e perda de avaliações - responsável pela baixa adesão aos protestos, levando ao uso dos piquetes como uma ação pragmática em defesa das pautas e que minimize as sanções institucionais? Ou será que é a indiferença da maioria dos membros da comunidade a responsável pela radicalização das entidades na ânsia de defender suas demandas num quadro de baixa "consciência" dos estudantes, técnicos e professores? Ou seria o contrário disto, ou seja, a radicalização excessiva dos líderes um dos elementos a espantar um debate mais matizado, uma agenda mais realista e um apoio mais massivo às manifestações?
As posições a esse respeito podem decantar em saídas que cruzem estes dilemas em nome de respostas mais matizadas e frutíferas.
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