Pancadaria na USP
As universidades estaduais paulistas (USP, Unicamp e Unesp) estão em greve de professores, técnicos e estudantes. Dentre reinvindicações saláriais (16%), reintegração de um líder sindical demitido em movimento anterior e algumas outras, a greve adiquiriu uma proporção muito maior do que as tradicionais greves universitárias, na USP. Algumas unidades montaram os tradicionais piquetes para impedir que outras unidades transitassem e desenvolvessem as atividades acadêmicas. A reitora da USP, Suely Vilela, providenciou um mandato judicial para que a Polícia Militar pusesse fim aos bloqueios no Campus do Butantã. E o resultado está no vídeo abaixo.
USP, 9-06-2009
Mais uma vez, por mais que a prática dos piquetes seja abusiva e mesmo defasada, o que a PM fez passou da conta. Não se trata de uma posição política, aqui. Achar estas imagens um absurdo não implica assumir a agenda dos piqueteiros. Levada pelo receio das ocupações passadas, a reitora preferiu chamar a polícia e evitar que as atividades burocráticas parassem. Ficou demonstrado, mais uma vez, a inabilidade política da dirigente em lidar com um tipo de fato relativamente corriqueiro no âmbito de sua profissão. Se os piquetes são discutíveis, este tipo de resposta também é.
Aqui há uma compilação com alguns artigos de posições divergentes sobre o assunto, de jornalistas e professores universitários.
6 comentários:
com as ressalvas de praxe, não é escandaloso esse barulho todo quando quem apanha é a classe média universitária diante do silêncio e da indiferença reinantes em relação às invasões, pacificações e "confrontos com traficantes" TODOS OS DIAS nas perifas?
Ops! Veja bem, Luiz, não foi assim que as coisas aconteceram... não havia ocupação da reitoria quando a polícia foi chamada, e os piquetes estavam bem limitados (e "pacíficos", como gosta quem acha que vive em uma democracia em que as relações de força são simétricas, permitindo o glorioso debate). A reitoria tentou se instalar no IPEN (área militar) e em outra fundação... como sempre fez - as atividades burocráticas NUNCA pararam. A questão não é essa.
A polícia passou da conta? É uma questão de medida - tipo, um pouquinho menos "tudo bem"? Sim, claro, como você disse, não se trata de uma posição política, aqui...
Os piquetes são discutíveis? Ótimo, vou esperar, então, a discussão... ou seja, um argumento, uma posição política - e com informações mais precisas.
Querido Adriano: sim, é escandaloso o silêncio sobre os confrontos diários na periferia, mas não dá, justamente por conta das diferenças gritantes, para colocar as duas coisas no mesmo pacote. Quero dizer com isso que essa desproporção não tira a importância deste fato... não se trata de uma alternativa, certo? não se trata de escolher qual é a pauta da capa do jornal...(entendo seu ponto, claro. Aliás, há um ótimo texto a respeito, considerando dessa vez o acidente aéreo, no blog do João Paulo Cuenca).
Querida Monica: a imprensa burguesa já fez suas escolhas para a capa do jornal. Entre duas alternativas, "os estudantes" sempre ganham. Pois não? A questão não está na repercussão da notícia. Mas na fabricação de uma calamidade pública. Uma coisa porém há que se dizer. A imprensa é imparcial. A PM batendo em estudantes ou matando na periferia, ela não escolhe um lado. Ela sempre é a favor. Da Polícia. Sei que não é de bom tom criticar "os estudantes", i.e., os estudantes radicalizados, em geral pelas facções de extrema esquerda. Mas todo esse debate perdeu o foco. Outra hora discutimos isso.
Cara Mônica, sobre cada um dos pontos levantados na sua intervenção:
Eu acompanhei as notícias na Folha, e o detalhe da não ocupação estava claro, mas não imagino que a reitoria tenha desconsiderado essa possibilidade. Afinal, trata-se de uma mobilização que atrapalha o funcionamento normal dos despachos acadêmicos e cria um fato político de desgaste - um dos objetivos das ocupações em geral.
Mas me parece que a truculência policial pode ser (e parece ser) efeito da polarização assumida pelos dos lados da rinha: o da reitora, apoiada em um grupo francamente indisposto ao debate e à negociação, e o dos militantes, frrancamente dispostos a um tipo de mobilização que não condiz (infelizmente, isso é um fato importante) com as posições da média dos estudantes. Se isto é culpa da média dos estudantes ou não, é outra questão.
Quanto à questão de medida, não, não acho que seja. Me expressei mal e acho que a polícia não deveria ser convocada. Sendo a manifestação dos estudantes descabida (em hipótese), há várias outras formas de fustigá-la.
Com relação à minha posição sobre os piquetes, sinceramente, não acho que sejam louváveis, embora também não consigo propor alternativa para o atual estado de desmobilização que paira no corpo acadêmico mesmo com bandeiras defensáveis (como os salários). Entretanto, o nível de discussão parece seguir por linhas tortas e isto desmobiliza também. Então, não tenho melhores subsídios para adentrar no problema da dificuldade de articulação e mobilização dos estudantes que tornasse os piquetes irrelevantes.
Aliás, eu não vi um texto convincente que defenda os piquetes para além das históricas vantagens deste tipo de recurso. Deixo este espaço para que você se posicione a respeito ou sugira algum outro artigo sobre o assunto.
O debate está aberto e espero que continue.
Adriano, não é que não seja de bom tom; é só que não faz sentido deslegitimar o assunto em função do problema - bem real - da mídia. E cuidado antes de identificar toda a usp com certa classe - embora isso seja quase correto - há muita gente que depende das greves, como os cruspianos, para conseguir, por exemplo, almoço aos domingos, mais um bloco de moradia, e a entrada de ônibus final de semana (o que não aconteceu), como foi acordado por conta da ocupação de 2007. A questão da mídia deve ser analisada e criticada, mas é outro assunto.
E justamente por isso, Luiz, confiar nas informações trazidas pela Folha não é uma boa opção. Parece que há um dossiê sobre o assunto no "passa palavra" (não li, mas me disseram que tem bastante coisa - li os textos, em geral, a partir de listas de discussão ou de blogs, os mais variados; sugiro o texto do Vladimir que saiu na Folha, "universidade não é caso de polícia", pra começar, e os textos da APG, que trazem muitas informações importantes).
Não, a culpa certamente não é da média dos estudantes, acho eu. Mesmo por que não é muito produtivo, imagino, especular sobre uma suposta "média", muito menos sobre culpa, nesse sentido. Existem ínstâncias de discussão e de decisão que são fundamentais para a tão requisitada democracia. Hoje há alguns grupos (um, de estudantes da poli, tentou "ocupar" o sintusp... gritando "MORTE ao Brandão!") que se organizam contra esse modelo de associação das categorias, em prol de uma estrutura tecnocrata... fim da política.
Creio que se trate, sim, de um desconhecimento geral da história daquela universidade e do sentido de uma instituição pública - e isso se deve, acredito, a certa conjuntura geral que merece uma análise séria. Questão de classe, de geração (que não viveu "perdas" políticas, que chegou à universidade com o Lula já no poder...), de política do estado de SP, etc.
Acho que isso permite analisar inclusive a mimada extrema esquerda, partidária do "eu quero" adolescente como bandeira de "luta".
Não, eu garanto a você, com certeza o piquete NÃO "atrapalha o funcionamento normal dos despachos acadêmicos"; e, se atrapalha, é muito, mas muito pouco. Quando há ocupação, a reitoria trabalha em outro prédio. A questão é política.
Luiz, o piquete que estava lá na reitoria antes da chegada da polícia era de funcionários, que já estavam em greve, e não de estudantes. E a reitoria não pode trabalhar com hipóteses: isso jamais justificaria a entrada da PM. Estava tudo bem, a greve inclusive estava bem fraca, e um dia acordo, no crusp, desço e eis que vejo vários homens da Força Tática (sem identificação...), três carros dos bombeiros no final da rua da reitoria (um de socorro, sabe?), e viaturas da PM para todos os lados. Que tal?
Já escrevi muito, mas vou dar uma dica sobre os piquetes. Minha humilde opinião é a seguinte: os piquetes pretendem assegurar que todos aqueles que queiram, possam efetivamente participar da greve. Explico. Há uma espécie de violência que não é esta violência física e direta que se pode identificar na ação da polícia e às vezes nas ações dos grevistas (embora haja diferenças gritantes). Trata-se de uma violência apoiada em relações de poder e constrangimentos que não pode ser negada. Quem já participou de uma greve sabe bem disso. O constrangimento moral acontece entre os professores, dos professores com alunos ("vou dar aula e pronto, que quer ir, vá... só tem prova semana que vem"), com os funcionários então! Bom, acho que isso dispensa exemplos. Assim, os piquetes servem justamente para evitar esses constrangimentos morais, essa violência silenciosa, para que aqueles que querem realmente possam fazer greve, participar das assembléis, discussões, manifestações.
O que acha deste argumento?
Meu pitaco no debate:
O problema maior aí foi o "fora PM" ... não concordo com as bombas de efeito, tampouco os escudos, mas da pra ver um sargentinho reprimido no meio dos PMs querendo mostrar serviço. Tudo poderia ser resolvido com um debate, mas os alunos provocaram pessoas perigosas. Gosto sempre de pensar que policiais são marginais disciplinados e armados a serviço do governo, são pessoas inconstantes..
A manifestação pode até ter sido pacífica [jogando flores, não pedras], mas poderia ser mais organizada e contida.
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