quinta-feira, 13 de novembro de 2008

A ética na política brasileira

Simon Schwartzman é um dos mais importantes cientistas sociais brasileiros em atuação. Em recente artigo, tenta reverter uma espécie de má vontade da opinião pública para uma questão sempre incômoda e confusa: a ética na política. Sua conceituação e explicação são úteis para retirar algumas dessas mazelas que entornam o assunto.


Contudo, a questão que lhe move é menos filosófica e mais conjuntural:


“o que havia de errado na UDN não era sua preocupação com a ética, mas sua incapacidade de entender e formular um projeto de organização da sociedade e do próprio sistema político que incentivasse os valores éticos, e não os comportamentos oportunistas e predatórios que caracterizam muito de nossa vida pública. Não é que, se ela tivesse conseguido formular isto, ela conseguiria se impor junto ao eleitorado, da mesma maneira que o candidato da oposição dificilmente ganharia as últimas eleições, por melhor que tivesse sido seu programa de reformas institucionais. Mas, pelo menos, o país poderia dispor de uma visão alternativa de organização social e funcionamento das instituições, e não ficaria perdido, como me parece que está, entre a “política de resultados,” por um lado, e a indignação moral e o ressentimento de outro”.[texto completo aqui]


São alusões ao PT, ao “petismo”, suas vanglórias e aos opositores destes. O conselho do professor Schwartzman, entretanto, esquece de algo importante da política brasileira recente:


A proposta que oferece à oposição (ou seja, a Geraldo Alckmin em 2006; ou seja, ao PSDB de uma forma geral) de “formular um projeto de organização da sociedade e do próprio sistema político que incentivasse os valores éticos” não é de simples assimilação por esta agremiação. Foi um dos baluartes do PT em sua luta parlamentar contra o FHC (e contra a política “tradicional” praticada no país) e seria facilmente revertida no campo eleitoral. Essa proposta, para qualquer partido, pode ser um tiro no próprio pé. Pois, no Brasil de hoje, “atire a primeira pedra” quem tem o passado ileso de corrupção. A “agenda” da ética é louvável e o professor Schwartzman dá muitas razões para isso. O problema está em começá-la, do zero, na atual conjuntura política do país: pouco tempo se passou sem que ambos os partidos (PSDB e PT) protagonizassem o manejo obscuro das instituições em seus governos.


Daí a dificuldade do PSDB em capitanear o a “indignação moral e o ressentimento” presentes em parcelas da população sem uma dose de cinismo.

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