sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Competição Política em Curitiba

Comparando as pesquisas eleitorais de Curitiba em 2008 com outras capitais brasileiras, o desequilíbrio da disputa na capital paranaense aparece como um caso atípico, sobretudo com relação às capitais vizinhas da região sul e sudeste.
Tamanha distância entre o primeiro e o segundo colocado só aparece em três capitais brasileiras: Maceió, João Pessoa e Goiânia.

Maceió (AL) – Cícero Almeida (PP), com 83,2%
Judson Cabral (PT), com 1,2%

João Pessoa (PB) – Ricardo Coutinho (PSB), com 70%
João Gonçalves (PSDB), com 12%

Goiânia (GO) – Íris Resende (PMDB), com 72%
Sardes Junior (PP), com 14%

Dados de diversos institutos compilados a partir de Fernando Rodrigues.


No caso da Região Sul, Florianópolis e Porto Alegre experimentam eleições muito mais concorridas:

Porto Alegre (RS)

José Fogaça (PMDB), com 31%, contra Maria do Rosário (PT), com 20%, seguidos de Manuela (PC do B), com 17% e Luciana Genro (PSOL), com 7%.

Florianópolis (SC)

Esperidião Amin (PP), com 29% contra Dario Berger (PMDB), com 22% e Cesar Souza Jr. (DEM), com 14%. Muito perto de um empate, por enquanto.


Com relação à Região Sudeste, não apenas a capital paulista enfrenta uma eleição equilibrada entre 3 candidatos de peso, como também a disputa está indefinida no Rio de Janeiro, com alguns institutos apontando empate técnico entre o candidato do PRB, Marcelo Crivella, com 20% das intenções de voto e o candidato governista Eduardo Paes, com 17%.
Situação parecida com Belo Horizonte, na qual Márcio Lacerda (PSB) tem 21% contra 17% de Jô Moraes (PC do B).

E Curitiba?

Tudo isso para dizer que a eleição em Curitiba no ano de 2008 segue um padrão de competição eleitoral abaixo das cidades com PIB e nível educacional próximos. Embora seja sempre perigoso relacionar variáveis demográficas e socioeconômicas com os resultados eleitorais, as informações servem para lançar algumas perguntas: quais as razões de uma tal disparidade (isolada) em Curitiba? Creditar todas as respostas à administração de Beto Richa é crer que 70% dos eleitores de Curitiba estão em meio a uma cidade completamente nova em relação a quatro anos atrás – e, isso, convenhamos, é uma ilusão. Faz esquecer que há, para além da pura e simples satisfação da opinião pública com uma administração, outras dimensões políticas que contam muito na hora da compreensão do tabuleiro eleitoral de uma cidade. Dentre várias dimensões, são flagrantes em Curitiba o baixo enraizamento do PT (e dos partidos de esquerda em geral), a ausência de uma polarização ideológica entre distintos programas de governo, o desinteresse do governador e de seu partido em projetar uma candidatura competitiva em Curitiba (o que não se faz em dois meses), entre outras. Cabe mencionar, ainda, que a ausência de partidos fortes que representem alternativas à tradicional política municipal na arena eleitoral se deve não a um suposto ‘conservadorismo’ do eleitorado, mas sim a uma fraca organização destes partidos, envoltos em brigas internas, presos a idiossincrasias de certos líderes e assim por diante.

O PT irá disputar o segundo turno em muitas capitais e tem reais chances de ganhar. Isto não é novidade, tornou-se uma das principais legendas do país. Curioso é a sua força em cidades do interior do Paraná (tais como Londrina, Maringá e Ponta Grossa, nas quais já ocupou prefeituras e ocupa papel central na correlação de forças), e o seu claro papel de coadjuvante nas eleições de Curitiba. Explicação para tal fato reside na organização interna na capital e na dificuldade de mobilizar uma agenda política factível e alternativa para a cidade.

Mas não só ao PT cabem tais avaliações. O PMDB – que vinha empunhando a bandeira dos programas sociais e estava baseando sua administração estadual e uma forma claramente distinta de fazer política – tem práticas organizacionais arcaicas, coroadas com uma candidatura que fez o partido evaporar, desacreditado pela maioria das lideranças e pela base do partido, sabotando a identidade e a força dos militantes, que se vêm em meio a uma situação desconfortável de ter que calar. E desperdiçando toda a ordem de recursos que a situação governista lhe rende.

São algumas respostas possíveis para o atual quadro eleitoral de Curitiba. Prova, ademais, que, independentemente do grau de desenvolvimento socioeconômico dos cidadãos, longe das estatísticas demográficas e de IDH, a competição política sofre interferência crucial das organizações políticas, sobretudo os partidos e facções partidárias que fazem da política uma prática profissional.

Um comentário:

Anônimo disse...

Aqui em Roraima, a distância do 1º pro segundo é de 22%. Passa aqui nesse endereço.

www.meiaspalavras.myblog.com.br

É um blog que crei pra falar sobre política. Meio crítica, meio análise, meio sátira...

Um abraço e boa semana

http://so-pensando.blogspot.com