sexta-feira, 2 de março de 2012

PSDB reforça tese de que lei de ferro das oligarquias é irrevogável

FOLHA DE S.PAULO, 02/03/2012, A8

Celso Roma*

Todas as organizações tendem a concentrar o poder nas mãos de um pequeno grupo de indivíduos. Este é o mote da lei de ferro da oligarquia, retratada em “A Sociologia dos Partidos Políticos”, escrito em 1911 por Robert Michels. No caso dos partidos políticos, sejam eles socialistas, socialdemocratas ou conservadores, todos nascem sob o discurso da democracia, mas, com o passar do tempo, sucumbem à oligarquização.

Prova disso é que, aos 23 anos, o PSDB evitou as prévias como método de seleção de seus candidatos aos cargos eletivos no país.
Oportunidades para democratizar o partido não faltaram. Em 2006 e 2010, durante as eleições presidenciais, o PSDB passou por profundas crises geradas pela disputa entre os seus pré-candidatos. Nessas ocasiões, a alta cúpula definiu o candidato a presidente.
A única experiência de prévias no PSDB-SP ocorreu há vinte anos. Em 1992, os filiados foram consultados para escolher o candidato a prefeito e os partidos a serem aceitos numa coligação. Mesmo assim, a Executiva municipal interferiu na forma como a consulta foi realizada, alterando a composição da lista de pré-candidatos.
Um dos incluídos, com o apoio de líderes tucanos como Mário Covas, Fernando Henrique Cardoso e José Serra, o pré-candidato Fábio Feldmann venceu Getúlio Hanashiro, que, inconformado com a derrota, denunciou, nas palavras dele, o conchavo de última hora.
Naquela ocasião, a maioria dos filiados vetou uma aliança com o PMDB e permitiu a coligação com partidos de menor expressão como o PDT e o PV, uma decisão que se revelou imprudente.
Com o PSDB divido, Fábio Feldmann teve desempenho ruim nas urnas, sendo um dos candidatos menos preferidos pelos paulistanos na eleição para prefeito de 1992.
ESTATUTO
Fundado em 1988, o PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira) estipulou em seu estatuto o princípio da democracia interna, que deveria garantir a máxima e permanente participação dos filiados na definição da orientação política, na seleção dos dirigentes, no processo decisório.
Mas, desde a fundação, o PSDB funciona como partido político de quadros, em que líderes tomam decisões e a participação dos demais filiados é mínima e esporádica.
A lei de ferro da oligarquia é irrevogável.

(*) Cientista político e especialista em partidos e eleições

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

O tabuleiro político de São Paulo

Exclusivo para o Blog GAC-NUSP-UFPR
Celso Roma *

A eleição na maior cidade do País colocará novamente os dois maiores partidos nacionais, PT e PSDB, frente a frente. A disputa levará ao palanque algo mais do que o futuro das legendas em um posto-chave do tabuleiro político. Estarão também dois projetos de governo que tenderão a federalizar o debate e balizar as estratégias para 2014.
No ano passado, o Diretório Nacional do PT definiu como prioridade vencer a eleição para prefeito de São Paulo como a última etapa de seu projeto de hegemonia do país. Porém, a tarefa de conquistar a fortaleza da oposição será difícil. A última vitória do PT na cidade foi em 2000, com Marta Suplicy – que não se reelegeu e teve de passar a faixa para José Serra (PSDB) em 2004. Nem a alta popularidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi suficiente para emplacar um candidato do partido em São Paulo.
Embora de sucesso incerto, a estratégia petista parece clara. Com Fernando Haddad, ex-ministro da Educação, o partido poderia alargar sua base de apoio no Congresso ao atrair o apoio de Gilberto Kassab e o seu recém-fundado PSD. Se fechada a coligação com um partido que já nasce com uma das principais bancadas em Brasília, o PT poderia ainda golpear um antigo braço da oposição e pavimentar o caminho da presidente Dilma em direção ao segundo mandato.
Moderado politicamente, Fernando Haddad é também a aposta petista para vencer a tradicional resistência de grupos conservadores da sociedade paulistana que rejeitam uma agenda da esquerda.
O PSDB, após sucessivas derrotas nas eleições para presidente e a perda de representatividade no Congresso, pretende manter o seu bastião. O partido está à frente do governo do Estado há 17 anos. O atual prefeito da capital foi eleito como vice na chapa de José Serra, em 2004, herdou a cadeira em 2006 e se reelegeu em 2008.
Para se fortalecer para a corrida presidencial de 2014, o PSDB almeja o apoio de aliados tradicionais, como o DEM, e potenciais, como o PSD. Os líderes do partido também se convenceram de que José Serra é o único que pode reunir forças políticas capazes de fazer frente a Fernando Haddad na eleição de São Paulo.
A escolha do paulistano em outubro próximo pode consolidar a hegemonia nacional do PT ou fortalecer a oposição do PSDB ao governo federal.
(*) cientista político e especialista em partidos e eleições